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 | 03/02/2002 21h13min

Conferencistas acreditam que globalização cria novas formas de desigualdade

A globalização acrescentou novas formas de discriminação e de violência contras as mulheres. Agora, elas também são vítimas das perseguições aos imigrantes, na Europa e nos Estados Unidos, e do crescimento do tráfico de mão-de-obra e de escravas a serviço da máfia da prostituição.

– Na globalização, mercadorias, dinheiro e empresas podem circular livremente, mas não as pessoas – disse Noemie Szatan-Glaymann, do Grupo de Informação para Imigrantes, da França, na conferência deste domingo sobre Migrações e Tráfico de Pessoas, no terceiro dia de debates do 2º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.

A degradação dos imigrantes, geralmente em situação irregular nos países que escolhem para viver, atinge historicamente os homens. Nos últimos anos, as mulheres e, muitas vezes, famílias inteiras, passaram a enfrentar os horrores da repressão que os trata como criminosos, segundo o francês Luca Marin, do Centro de Estudos sobre Migrações Internacionais. Mulheres da Ásia, da África e da América Latina reforçaram os movimentos migratórios em busca de trabalho ou são exloradas por máfias internacionais.

– Mais de 50 mil chineses são levados por traficantes todo ano para a Europa e os Estados Unidos. Das Filipinas, 80% das pessoas traficadas são mulheres usadas como domésticas ou prostitutas – disse Marin.

Noemie lembrou que, há cerca de 10 anos, cresceu o tráfico de mulheres do Leste Europeu para o resto da Europa. O destino: a prostituição, em muitos casos de adolescentes. O imigrante, segundo Noemie, é tratado quase sempre como uma mercadoria, sem quaisquer direitos, e tem a situação agravada pelas redes que se especializaram em revender pessoas na Europa, enquanto crescem os partidos e movimentos articulados por políticos racistas e antimigração.

A baiana Sônia Mendes, 53 anos, de Salvador, mora há 10 anos em Roma e lidera desde 1996 a Associação de Mulheres Brasileiras na Itália, uma das dezenas de organizações criadas especialmente para defender mulheres imigrantes no país. Bibliotecária, divorciada, duas filhas, ela conseguiu cidadania italiana. Mas está preocupada com a situação de muitos dos 40 mil brasileiros que moram na Itália e estão sob ameaça de extradição.

O governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi encaminhou ao parlamento uma lei que restringe a entrada de imigrantes. Até agora, uma pessoa pode ficar no país se tiver a garantia de um residente de que pode vir a arranjar emprego. A lei prevê que só permenecerá quem já tiver contrato de trabalho. Ilegais podem ser extraditados e, se reincididentes, presos por no mínimo quatro anos.

A repressão a migrantes que desejam apenas trabalhar é muitas vezes frouxa no combate ao tráfico de gente. Para a professora Maria Lúcia Leal, da Universidade de Brasília, é clara a relação entre tráfico e migração. Ela coordena uma pesquisa nacional sobre tráfico de mulheres no Brasil, um comércio institucionalizado que desafia a Polícia Federal e a Interpol.
Para que esses e outros problemas deixem de ser "invisíveis", como disse Maria Lúcia, é preciso debate e mobilização, como a que orienta o trabalho de Rosa na Itália.

Neste domingo, mulheres que participam do Fórum fizeram sua parte com barulho. Dezenas delas ocuparam as escadarias da PUCRS e fizeram um apitaço contra todos os tipos de discriminação. No grupo, um cartaz com fotos de uma afegã escondida sob uma burka. Outras burkas, menos fotográficas e bem mais próximas, continuam invisíveis.

MOISÉS MENDES
Arivaldo Chaves / ZH

A baiana Sônia Mendes vive na Itália e alerta para os brasileiros que vivem sob ameaça de extradição no país
Foto:  Arivaldo Chaves  /  ZH


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