| 26/01/2006 10h
O Fórum Social Mundial entra hoje em seu terceiro dia de debates sem poder resolver como passar do protesto à proposta, um enigma que carrega desde seu nascimento e que aumenta em Caracas, com o calor da revolução bolivariana.
De uma das centenas de mesas de discussões anunciadas para hoje participarão o brasileiro Emir Sader e o egípcio Samir Amin, dois dos fundadores do Fórum Social e defensores de uma linha dura que pretende transformar a reunião na semente de um partido político global.
A mesma discussão vem desde o ano passado, quando em Porto Alegre um grupo de intelectuais, entre eles Sader e Amin, apresentou um manifesto em que estimulava o Fórum Social a passar para as ações concretas e adotar uma aparência mais política.
A idéia despertou reações entre os que querem manter o Fórum como um espaço de discussão e intercâmbio de experiências, mas ganhou força diante da aberta politização que impõe em Caracas a onipresente revolução bolivariana.
– A idéia utópica dos primeiros fóruns parece que começa a se perder em Caracas e há quem queira precipitar uma reviravolta extrema rumo à política – disse Plinio Arruda Sampaio, um lendário dirigente de esquerda brasileiro e ativo participante em todos os fóruns realizados em Porto Alegre.
Na sua opinião, o Fórum Social está num momento delicado e deve decidir seus rumos com prudência, pois corre o risco de perder muito do terreno conquistado desde 2001, quando irrompeu como uma corrente contrária à do Fórum Econômico Mundial, que tradicionalmente se realiza em Davos (Suíça).
– O que matou este mundo foi a impossibilidade de aceitar outras idéias, que foi um verdadeiro anátema, e o Fórum Social Mundial tem combatido isso se abrindo à diversidade – disse.
O debate sobre esse assunto acontece fundamentalmente no centro do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial, uma Torre de Babel formada por cerca de 200 organizações de cem países, que deverá decidir em Caracas a sede e o formato da reunião do próximo ano.
Amanhã, está previsto um discurso do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que no ano passado, quando pela primeira vez participou do Fórum Social, pediu ao movimento contra a globalização que adote "uma agenda mundial contra as hegemonias reinantes".
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