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 | 21/03/2006 00h09min

Anthony Garotinho diz não ter plano B

Ex-governador afirmou que não será candidato para atrapalhar

Em entrevista nesta noite no Programa Roda Viva, da TV Cultura, o pré-candidato do PMDB à Presidência da República (embora ainda dependa de confirmação do partido em convenção), Anthony Garotinho disse não ter plano B.

– Acredito que sairei com o mesmo patamar de votos da eleição passada (quando foi candidato à Presidência, pelo PSB), 15 milhões de votos – afirmou, descartando qualquer possibilidade de sua candidatura não sair.

– Ninguém vai abandonar um candidato que começa com 18% nas pesquisas – disse.

Além disso, Garotinho disse que não seria candidato do PMDB se fosse para atrapalhar. Ao ser questionado sobre quem apoiaria no segundo turno, ele foi rápido:

– Ninguém, porque eu estarei no segundo turno – respondeu, fugindo do assunto quando os jornalistas insistiram numa hipótese diferente.

– O futuro é uma hipótese, o passado é uma realidade – filosofou ao lembrar dos 15 milhões de votos recebidos – informação, aliás, que foi repetida diversas vezes pelo entrevistado.

Ainda falando sobre seu desempenho, o ex-governador do Rio lembrou que, pelo PSB, ele tinha apenas poucos minutos na propaganda eleitoral em rádio e televisão, além do apoio de candidatos inexpressivos nos Estados e, ainda assim, conseguiu 15 milhões de votos, contra 19 milhões obtidos por José Serra, que tinha bons candidatos nos Estados e grande divulgação nacional.

Sobre a polêmica do critério de contagem de votos da consulta feita pelo PMDB no domingo, Garotinho disse que a média ponderada foi o que garantiu o equilíbrio dos candidatos.

– A Região Sul tem 10 mil votos. O Rio apenas mil. Seria impossível qualquer candidato outro candidato vencer – garantiu.

Ele elogiou novamente o seu adversário, o governador gaúcho Germano Rigotto, e disse que o senador Pedro Simon, presidente da sigla no Rio Grande do Sul, garantiu que o Estado seria o primeiro a declarar apoio a sua candidatura.

Ao falar sobre seu plano de governo, Garotinho não perdeu a oportunidade de fazer críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, as políticas públicas que pretende implantar terão como base a mudança da política macro-econômica.

– A política econômica dos dois (Lula e FHC) é igual. O Lula fez mais investimentos na área social, mas a falta de planejamento do governo Lula é impressionante – disse.

Ele também respondeu questões sobre o Rio de Janeiro, e foi intensamente interrogado sobre a questão da segurança e da presença do Exército nos morros e favelas.

Garotinho disse que não era verdade a afirmação dos jornalistas de que sua esposa, a atual governadora, Rosinha Garotinho, teria recusado a ajuda do governo federal para participar de ações conjuntas de combate ao narcotráfico. O ex-governador, que também foi secretário de Segurança no governo de Rosinha, deu várias voltas e disse que apóia que a polícia suba o morro, caso os bandidos se escondam lá - desde que as ações sigam as leis.

O pré-candidato do PMDB irritou os jornalistas com a demora e falta de objetividade das perguntas sobre o assunto. Ao final do bloco sobre o assunto, ele criticou o Exército dizendo que os militares só foram para os morros depois que foram roubadas armas da corporação, e não por motivos ligados às necessidades sociais.

Garotinho disse ainda que Lula tentou cooptar o partido para conseguir apoio, pois, em vez de ir direto ao presidente da sigla, Michel Temer, fez uma tentativa de esvaziar o partido, no que o ex-governador chamou de método “pouco republicano” de governar. Ele lembrou ainda a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que desmentiu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na CPI dos Bingos, e também a liberdade de Delúbio Soares, que confessou fraudes e caixa dois e continua solto. Garotinho insinuou que Lula interfere no Judiciário.

O ex-governador falou ainda sobre sua política para a dívida interna. Os jornalistas disseram que a política de Garotinho para o assunto era nebulosa. Ele disse que defende a redução de juros, diminuição da carga tributária e aumento de crédito. Ao ser questionado sobre como faria isso, Garotinho respondeu “um dia de cada vez”.Sobre a política econômica de Palocci, Garotinho disse que há hipocrisia e que é óbvio que dá para baixar a taxa de juros, mas não com Henrique Meirelles no Banco Central, que estaria praticando um erro intelectual

– Tá igual a parada militar onde todo mundo vai para um lado e um soldado marcha para o outro. Será que só ele está certo e os outros todos errados? – questionou, lembrando países como Inglaterra, Alemanha e China, que estariam reduzindo os juros.

Garotinho disse que não considera propaganda eleitoral a divulgação de resultado de obras. Também negou que seja populista e disse que há pesos diferentes para a mesma medida.

– O Lula criou o Bolsa Família, não é populista. O Garotinho, antes do Lula, criou um cheque que dá R$ 100, é populista – ironizou.

Sobre a Lei de Responsabilidade Social, Garotinho disse que é preciso uma adequação no percentual de 13%. O pré-candidato do PMDB disse que o índice pode ser o mesmo, mas não deveria incidir sobre áreas como Educação e Saúde, que já tem percentual mínimo de investimentos definidos por lei.

A postura branda de Garotinho provocou comentários irônicos entre os jornalistas. Teresa Cruvinel, do jornal O Globo, disse que era a vez do “Garotinho paz e amor”. O apresentador do Jornal da Band, Ricardo Boechat, foi mais direto:

– O senhor está quase me convencendo a votar neles (os adversários).

A entrevista encerrou com Garotinho dando sua receita para vencer as eleições:

– Falar a verdade, olhar nos olhos e não prometer aquilo que não pode fazer.

A apresentação foi do jornalista Paulo Markun. Participaram do programa, como entrevistadores, Carlos Marchi, coordenador de política do Jornal O Estado de S. Paulo; Teresa Cruvinel, colunista de política do jornal O Globo; Alexandre Machado, editor de política da TV Cultura; Denise Rothenburg, colunista de política do jornal Correio Braziliense; Plínio Fraga, coordenador da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro e Ricardo Boechat, apresentador do Jornal da Band.

 
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