| 30/06/2006 18h01min
O técnico Carlos Alberto Parreira nega, mas o clima é de revanche. Quando os times de Brasil e França pisarem o gramado do Frankfurt Stadium, a partir das 16h deste sábado, no encerramento das quartas-de-final, entrarão em campo também fantasmas de oito anos atrás. Por mais que os craques brasileiros desconversem, a derrota na decisão do Mundial de 98 e o drama vivido por Ronaldo, horas antes do duelo em Saint-Dennis, marcaram.
O clima pode não ser de hostilidade – muitos dos rivais jogam juntos e são amigos –, mas há desejo intenso de mandar para o espaço os 3 a 0 daquele fatídico 12 de julho. A vitória lavaria a alma nacional e cravaria outro recorde para este grupo cheio de números especiais, pois a Seleção iria para inédita quarta semifinal consecutiva.
– Essa história de dar o troco não existe – advertiu Parreira nesta sexta à tarde, antes do treino da Seleção no estádio em que, um ano atrás, bateu a Argentina por 4 a 1 na decisão da Copa das Confederações.
– Só poderemos falar em revanche no dia em que brasileiros e franceses voltarem a se enfrentar em final de Copa do Mundo – comparou.
E não quer nem ouvir falar em volta no tempo para Ronaldo.
– Não tocamos nesse assunto (a crise de convulsão) nem vamos tocar. Ninguém pensa naquilo por aqui, nem conversamos a respeito daquele episódio – garantiu.
Dessa forma, o técnico faz clara tentativa de aliviar a expectativa em torno do primeiro grande teste da equipe no torneio alemão. Ele prefere fechar o foco na necessidade de driblar vacilos, independentemente do valor do rival. E não deixa de ter razão. A Copa é torneio curto, capcioso, implacável com derrapadas e não poupa nem os grandes. Além disso, a seleção tem a chance de mostrar, contra os "Bleus", que não chegou a este estágio por pegar apenas galinhas-mortas como Croácia, Austrália, Japão e Gana.
O desafio verde e amarelo também não oferece meio-termo: ou vêm a quinta vitória e a permanência no caminho do hexa, ou a derrota significa levantar acampamento, arrumar as malas e voltar para casa. Com a desclassificação da Argentina, o Mundial viraria uma edição condensada da Eurocopa, o campeonato europeu de seleções.
O Brasil colocará em avaliação decisiva, em Frankfurt, sua opção por desempenho pragmático, que garante bons resultados sem que necessariamente venham acompanhados de espetáculo. Parreira e jogadores se não abdicaram do show, em nome do título, o colocam em segundo plano.
– Não adianta encantar o público e sair da briga antes do tempo – discursou Cafu, o capitão do pentacampeonato.
Uma seleção prática, eficiente, é o que Parreira pretende ver no cenário do confronto deste sábado – um estádio que tem teto retrátil e que fica no meio de um parque. O time está escalado, os jogadores sabem quais são os titulares, mas o mistério para o público externo permanece, em repetição do que ocorreu contra Japão e Gana. O faz-de-conta deu certo, e o treinador campeão do mundo em 1994 tomou gosto pela brincadeira de esconde-esconde.
– É uma prerrogativa que tenho – costuma dizer.
Não há muito o que mudar para pegar Zidane e seus companheiros. Parreira é lógico em suas escolhas, conservador nas alterações e dificilmente surpreenderá com formação que destoe de tudo o que fez até agora. Kaká, por exemplo, vai jogar. O astro do Milan ficou dois dias sem treinar, depois da festa sobre os africanos em Dortmund, mas ontem não deu sinais de fadiga, nem de dor no joelho.
– Me preparei muito para esta Copa. Quero aproveitar qualquer chance – repete com insistência.
Robinho também está livre para atuar, depois de uma semana de tratamento que o tirou do time contra Gana. A prudência, porém, indica que continue como alternativa para o lugar de Adriano no segundo tempo. Se entrar desde o início, corre risco até de cansar e queimar uma troca.
Resta uma dúvida no meio-campo. Gilberto Silva agrada, porque torna o setor mais seguro toda vez que substitui Emerson. Além disso, o titular também ficou de molho por conta de contusão no joelho. Em favor de Emerson está a experiência, apesar do momento tecnicamente oscilante que vive.
O vencedor desta noite pegará, na quarta-feira em Munique, o ganhador do clássico entre Portugal e Inglaterra. Há torcida para que ocorra o reencontro com Scolari, o comandante brasileiro de quatro anos atrás na Ásia. Antes, porém, o Brasil tem de exorcizar o fantasminha nada camarada que o perturba quando vê a França.
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