| 15/07/2002 23h02min
O ex-general paraguaio Lino Oviedo – exilado no Brasil desde 2000 – deve ser convocado para explicar seu possível envolvimento com a incitação de protestos no Paraguai para exigir a renúncia do atual presidente Luis González Macchi, do Partido Colorado. Na noite desta segunda-feira, 15 de julho, o ministro da Justiça brasileiro, Paulo de Tarso Ribeiro, determinou ao Departamento de Estrangeiros que convoque imediatamente Oviedo.
Para conter os protestos, que deixaram pelo menos 15 feridos, quatro deles em estado grave, o governo paraguaio decretou estado de exceção (semelhante ao estado de sítio) por cinco dias. Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil, foi um dos principais palcos das manifestações.
O estado de exceção dá ao Executivo o poder de prender pessoas sem autorização judicial, fazer buscas em propriedades privadas e proibir manifestações públicas. Um decreto complementar autoriza as forças armadas a colaborarem com a polícia para restabelecer a ordem. O ministro do Interior, Víctor Hermosa, disse que a medida foi adotada para "evitar uma situação de maior violência".
O governo responsabiliza Oviedo, exilado no Brasil, pelos distúrbios e prometeu prender seus partidários.
Até a noite desta segunda não havia sido confirmada a informação de que duas pessoas teriam morrido durante os confrontos. Em oito horas de protestos, os manifestantes, em sua maioria agricultores, fecharam estradas no interior e um dos acessos a Assunção, a capital paraguaia.
No acesso sul da capital, quase mil pessoas bloquearam por três horas e meia duas importantes avenidas. Outras 4 mil pessoas bloquearam até o meio-dia a ponte internacional San Roque González, que liga Encarnación a Posadas, na Argentina. Manifestações também ocorreram na fronteira com Mato Grosso do Sul.
A polícia reprimiu com violência os manifestantes que fecharam a Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, que liga Ciudad del Este a Foz do Iguaçu, no Brasil. Quatro pessoas, incluindo uma criança de 11 anos, foram baleadas no confronto entre 800 manifestantes e a polícia em Ciudad del Este. Interditada às 6h, a Ponte da Amizade foi reaberta no início da tarde de ontem. Os policiais usaram balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que responderam atirando pedras. Cinco policiais teriam ficado feridos, e dois manifestantes apresentavam ferimentos provocados por arma de fogo.
O porta-voz da polícia, Santiago Velasco, disse que "os policiais tiveram de intervir para desocupar a área e garantir a segurança sobre a ponte".
Um porta-voz dos oviedistas, Guillermo Sánchez, insistia, no entanto, que o ex-general não convocou a mobilização de seus partidários e assegurou que as manifestações "são espontâneas".
Manifestações como as de ontem fariam parte da estratégia do ex-general Oviedo para retornar ao Paraguai e disputar as eleições presidenciais de 2003. Foragido da Justiça paraguaia, o ex-general vive livremente no Brasil graças a um salvo-conduto concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Impedido de entrar no país sob o risco de ser preso, por causa de uma pena não-cumprida de 10 anos de cadeia pela tentativa frustrada de golpe de Estado contra Juan Carlos Wasmosy, em 1996, Oviedo vem usando Foz do Iguaçu e outras cidades da fronteira para reunir seus partidários em comícios, nos quais faz duras críticas às autoridades paraguaias.
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