| 23/09/2006 16h11min
O presidente Lula afirma querer algemas colocadas nos envolvidos na compra do dossiê antitucano. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, diz que identificar origem do dinheiro é "ponto de honra". Mas a verdade é que a Polícia Federal (PF), subordinada aos dois, baixou uma cortina de silêncio sobre o tema.
O mais recente ato de abafamento envolveu a retirada do delegado federal Edmilson Pereira Bruno do caso. Bruno, que atua em São Paulo, foi o policial que apreendeu R$ 1,7 milhão no Hotel Íbis, em poder de Valdebran Padilha e Gedimar Passos, emissários do PT para comprar o dossiê. As investigações de São Paulo estão agora a cargo do diretor-executivo Zulmar Pimentel, segundo homem na hierarquia nacional da PF.
Tudo que interessa, incluindo fitas de circuito fechado de TV do hotel onde seria consumada a transação do dossiê, está agora nas mãos de Pimentel, em Brasília. O diretor também encarregou uma delegada novata, que não participou das prisões, de
interrogar um dos suspeitos
de envolvimento no episódio, o petista Freud Godoy, ex-assessor da Presidência da República. O usual é que o autor das detenções faça os interrogatórios, até porque está por dentro.
Ao conceder entrevista, ontem, o delegado Bruno contestou a tese de "intervenção branca". Segundo Bruno, ele estava fora da operação e foi acionado pela PF de Mato Grosso para deter Valdebran no hotel paulista. Ele sustentou que, pela hora avançada em que terminaram as prisões, não tomou depoimentos, que ficaram a cargo da delegada Márcia Giorgetti Lorenzetti, que está na instituição há apenas três anos e é assessora da superintendência.
– Eu não fui afastado, apenas não continuei no caso – disse Bruno.
Ele acrescentou não saber se isso é normal:
– Eu apenas segui a minha chefia.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o delegado Bruno foi de fato afastado do caso e, no lugar dele, foram acionados policiais ligados
ao superintendente em exercício da PF em São Paulo, Severino
Alexandre, indicado pelo diretor-executivo.
Por orientação do superintendente em exercício, todos os delegados e agentes foram proibidos de falar sobre o episódio. Também foi vetada a divulgação de imagens do dinheiro apreendido no hotel.
O fluxo das informações foi cortado, e não só em São Paulo. O outro delegado ligado ao inquérito, Diógenes Curado (de Cuiabá), aderiu ao mutismo nas últimas horas. Pelo menos diante das câmeras e ao telefone.
É uma guinada e tanto. A PF do governo Lula tem se notabilizado por operações espetaculares e com publicidade total, como o próprio ministro da Justiça gosta de lembrar. A diferença é que esta ocorreu num momento especialmente delicado, às vésperas da eleição, e envolve integrantes do governo. Agora o ministro mudou o discurso e ordenou que não fossem mostradas imagens do dinheiro apreendido, para "evitar a exploração política do episódio".
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