| 02/10/2006 00h07min
Embora a apuração não tenha sido concluída, é possível afirmar que haverá segundo turno entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O anúncio foi feito pelo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Marco Aurélio Mello. A entrevista foi concedida quando totalizavam 97,80% os votos apurados. O petista liderava a eleição com 48,79%, seguido pelo tucano, que tinha 41,43%.
As últimas projeções dos institutos de pesquisa apontavam a possibilidade da eleição prosseguir até o fim do mês, mas jamais indicaram que os percentuais dos candidatos seriam tão próximos. Pelo segundo pleito seguido, PT e PSDB se enfrentarão nas urnas nessa etapa. Além de seu próprio crescimento, contribuíram para o candidato tucano passar para a próxima fase os resultados dos demais candidatos – Heloísa Helena (P-Sol) e Cristovam Buarque (PDT).
A menos de um mês da eleição, a calmaria da campanha foi abalada pela revelação da existência de um dossiê sobre o suposto envolvimento do PSDB no escândalo da máfia das ambulâncias. O que poderia ser prejudicial somente aos tucanos tornou-se um problema para o candidato do PT, após a descoberta de envolvimento de petistas na tentativa de compra do conteúdo.
Além do caso Dossiê Cuiabá e a divulgação de fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal, a ausência de Lula no último debate do presidencial, realizado na Rede Globo na quinta-feira passada, contribuiu para prejudicar o desempenho do candidato petista. Alckmin, Cristovam Buarque e Heloísa Helena, presentes no embate na emissora, aproveitaram a cadeira vazia deixada pelo presidente Lula para falar sobre os últimos casos de corrupção.
Até a reta final da campanha, o candidato tucano havia sido criticado por correligionários por ter adotado um tom ameno nas propagandas eleitorais, sem bater de frente no presidente Lula. Após vir à tona o novo escândalo do dossiê, o PSDB intensificou os ataques contra o candidato petista.
Mesmo antes do novo escândalo, alguns levantamentos indicavam que Lula havia perdido espaço em redutos eleitorais do PT. O caso mais exemplar é o do Rio Grande do Sul. Desde as eleições presidenciais de 1989, Lula só havia perdido uma vez no Estado. No primeiro turno daquele pleito, o gaúcho Leonel Brizola (PDT) venceu em sua terra natal.
O resultado em São Paulo foi determinante para o conduzir a disputa para o segundo turno. Apesar do dano na candidatura de Alckmin no Estado em função dos ataques do PCC, o candidato tucano conseguiu vencer entre os paulistas.
Já a imagem do governo Lula vem sofrendo desgaste há pelo menos dois anos, desde que foram revelados escândalos que respingaram no PT. Em 2004, o primeiro deles envolveu Waldomiro Diniz, homem de confiança de José Dirceu.
Outro deles emergiu em 2005, quando o deputado Roberto Jefferson (RJ), ex-presidente do PTB, acusou o PT de pagar mesadas de R$ 20 mil a R$ 60 mil a deputados do PP e do PL. O caso resultou na saída de Dirceu do comando da Casa Civil. Já neste ano, o caseiro Francenildo dos Santos provocou a queda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao denunciar a presença do petista em uma mansão do lago sul, em Brasília. A casa seria palco de festas e partilha de dinheiro entre os freqüentadores.
As turbulências vividas no Palácio do Planalto não chegaram a comprometer o bom percentual obtido pelo candidato petista no primeiro turno. Os eleitores do Nordeste e com menor renda alavancaram os números do candidato do PT. A poucos dias das eleições, foi divulgado um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que indicava que o nível de pobreza teve uma queda durante os três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A pesquisa mostrou que a pobreza, que atingia 28,2% dos brasileiros em 2003, passou a englobar 22,77% em 2005 – ou 42,570 milhões de pessoas, menor patamar desde que o levantamento começou a ser feito, em 1992.
Até o próximo dia 29, os brasileiros saberão o que pesa mais: o voto dos eleitores de baixo poder aquisitivo, representados em sua maioria pela população do Nordeste, ou os da classe média, que se concentra nas Regiões Sul e Sudeste do país.
Confira números completos de resultados no site de apuração.
Veja o Mapa do Poder com o desempenho dos candidatos.
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