| 16/11/2006 21h19min
Pela segunda vez em uma semana, um representante da bancada do PT no Senado recorreu à tribuna para expor suas divergências em relação aos rumos do governo Lula. Desta vez foi o senador Delcidio Amaral (PT-MS), ex-líder da bancada petista e ex-presidente da CPI dos Correios. Ressentido com o corpo mole de companheiros do próprio partido na sua campanha pelo governo do Mato Grosso do Sul, Delcidio deixou clara sua discordância em relação às críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às elites e à imprensa.
Em linha oposta à dos principais dirigentes petistas, que condenaram o comportamento dos jornalistas ao longo de toda a campanha eleitoral, Delcidio elogiou o trabalho da mídia:
– A imprensa desenvolveu um papel fundamental nesses últimos 18 meses. Dias difíceis enfrentamos, e a imprensa nada inventou: simplesmente registrou o que acontecia. Ela não é responsável pelos escândalos com que tivemos oportunidade de conviver. Temos de virar a página, para que esse segundo mandato do presidente Lula seja de êxito e de todos, como diz aquele velho lema "Um Brasil de todos" – afirmou.
O senador petista disse ainda que a campanha eleitoral acabou e que é preciso comandar o país, olhando para todos os segmentos da sociedade, numa referência às críticas recorrentes de Lula às elites, mas sem citar o nome do presidente:
– Não existem os desassistidos somente na nossa sociedade. Existe a classe média, os mais abastados, e precisamos governar para todos. Não podemos criticar as ditas elites. O que são elites? Há elites de parlamentares, elites de professores, de cientistas, de intelectuais, de médicos. Não podemos generalizar esse discurso, porque precisamos fazer um governo para todos. Um presidente representa todos, e não segmentos da sociedade, por mais que se deva ter uma atenção especial àqueles que precisam da mão generosa do Estado – disse.
Na avaliação de Delcidio, o PT, mais do que ninguém, precisa reconhecer os seus erros. Na verdade, o senador não consegue disfarçar a mágoa com o tratamento recebido do governo e do próprio partido desde a aprovação do relatório final da CPI dos Correios, que antecipou de certa forma o pedido de abertura de inquérito de 40 pessoas, entre elas várias estrelas do PT.
– Temos de ter humildade para reconhecer aquilo em que erramos, no PT especialmente, e fazer uma avaliação rigorosa dos nossos passos. Temos de ter coragem de reconhecer que erramos e de não culpar quem fez um trabalho grande, quem teve um posicionamento isento ou quem, em seu dia-a-dia, no Senado ou na Câmara, honrou o Partido dos Trabalhadores no Congresso Nacional – discursou Delcidio, reforçando as cobranças do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) pela retomada da reforma da Previdência.
– Não podemos achar que, de uma hora para a outra, a política econômica do Brasil vai ser alterada. Não podemos, de uma hora para outra, acreditar que, com algumas canetadas, vamos fazer o Brasil crescer 5%. Por outro lado, precisamos tomar medidas cuidadosas. Portanto, prudência e canja de galinha não fazem mal para ninguém. Ficamos discutindo economia, mas será que temos uma legislação que garanta os investimentos? Essa é a pergunta que tem de ser feita. Como é que vamos fazer ou trazer investimentos se o arcabouço legal não está definido ou não inspira a confiança de que os investidores precisam para aqui colocar os seus recursos? – afirmou.
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