A senadora e primeira-dama da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, favorita nas pesquisas para a eleição presidencial deste domingo, não esconde sua admiração pela mítica figura de Evita Perón nem sua vaidade. A candidata da Frente para a Vitória definiu a segunda esposa do três vezes presidente e general Juan Domingo Perón como uma "fada, uma mulher incomparável, única e irrepetível".

Cristina, de 54 anos, não herdou de Evita apenas sua ferrenha vocação para o poder e seus dotes de oradora. Assim como a ex-primeira-dama, a atual é detalhista com relação a sua aparência, atitude muitas vezes criticada por seus detratores, mas que ela defende.

— Criticam-me porque me arrumo demais. Mas os que me criticam pela minha maquiagem e meu cabelo, na realidade se incomodam pelos interesses que combatemos — disse a senadora em recente ato de campanha.

Filha de uma casal de classe média de La Plata (cidade 60 quilômetros ao sul de Buenos Aires), Cristina conheceu seu atual marido, Néstor Kirchner, em 1974, quando ambos estudavam Direito na Universidade Pública local. Militantes do Partido Justicialista (PJ, peronista) desde a juventude, eles se casaram em 1975, e, um ano depois, fugindo da repressão da ditadura militar, que perdurou entre 1976 e 1983, se mudaram para Río Gallegos, cidade-natal de Kirchner, a 2,5 mil quilômetros de Buenos Aires, onde abriram um escritório de advocacia e deram início a um projeto no ramo imobiliário.

Foi lá que Cristina desenvolveu sua carreira política junto com a de seu esposo, eleito em 1987 prefeito da cidade e, em 1995, governador da província de Santa Cruz. Ela mesma foi eleita em 1989 deputada provincial, cargo que deixou em 1995 para assumir o de senadora nacional pela mesma região. Dois anos depois, tornou-se deputada nacional e, em 2001, retornou ao cargo de senadora, que ainda ocupa e no qual teve uma destacada atuação.

Há meses Cristina se sente a primeira presidente da Argentina escolhida por voto popular. De fato, age como tal nos atos públicos de que participa e também o fez nas inúmeras viagens ao exterior que realizou nos últimos meses para promover sua candidatura. No início do mês, num ato com correligionários nos arredores de Buenos Aires, até se encorajou a colocar uma faixa presidencial que havia sido dada por um simpatizante.

Mãe de Máximo, de 30 anos, e Florencia, 17 anos, Cristina se caracteriza pela personalidade forte, que o ex-presidente radical Raúl Alfonsín (1983-1989) classificou como "irascível". Ninguém foi mais longe, no entanto, que a revista Noticias, crítica habitual de supostos casos de corrupção na atual gestão e que, em julho, publicou uma reportagem sobre um transtorno psiquiátrico bipolar supostamente sofrido pela primeira-dama.