| 27/12/2007 16h23min
Benazir Bhutto, que ocupou o cargo de primeira-ministra do Paquistão duas vezes, morreu nesta quinta-feira em um atentado em seu país, apenas duas semanas antes de disputar novamente esse cargo, nas eleições de 8 de janeiro.
Benazir retornou a Karachi (Paquistão) em 18 de outubro após um pacto com o atual presidente Pervez Musharaf, no qual a Justiça retirou as acusações de corrupção contra ela. A filha do presidente muçulmano sunita Ali Bhutto filiou-se aos 14 anos ao Partido Popular do Paquistão (PPP), fundado por seu pai em 1967.
Desde muito cedo ela percebeu a vocação para a política. Apesar de ser mulher e viver num país muçulmano, a ex-primeira-ministra se preparou para alcançar os maiores cargos do Paquistão. Para isso, Benazir estudou Ciências Políticas nas universidades de Harvard (EUA) e de Oxford (Reino Unido). Ela conseguiu combinar os costumes orientais e ocidentais, numa mistura que foi manifestada em seus governos.
Benazir liderou o
governo do país de 1988 a 1990 e de
1993 a 1996) sem conseguir completar nenhum de seus mandatos, já que foi perseguida por acusações de corrupção, das quais conseguiu escapar com o exílio no início de 1999.
Conhecida como "Pinkie", Benazir foi testemunha da derrocada de seu pai pelo general Zia ul-Haq, que ela prendeu e executou anos depois. Com a morte de seu pai, ela assumiu a direção do PPP.
Benazir esteve detida em prisão domiciliar por longos anos, quando aproveitou para escrever sua biografia. Em 1984, se exilou em Londres, de onde retornou dois anos depois e foi recebida com boas-vindas por um milhão de pessoas nas ruas de Lahore.
Apesar de sua educação ocidental, a ex-primeira-ministra foi fiel aos costumes de seu país e se casou com um homem escolhido por sua família.
— Às vezes a química funciona. Além disso, num casamento arranjado as expectativas não são muito altas e isto faz com que as coisas possam funcionar melhor — afirmou ela à Agência Efe, em
1987, sobre sua união com Asif Zardari.
A
morte do general Zia num acidente de avião em agosto de 1988 e as eleições a levaram ao poder em 2 de dezembro desse ano. No entanto, em 6 de agosto de 1990 o presidente Ghulam Ishaq Khan a destituiu do cargo, acusando-a de abuso de poder, nepotismo e corrupção, dissolvendo imediatamente a Assembléia e convocando novos pleitos.
Benazir lembrava daqueles momentos com as seguintes palavras:
— Minha personalidade é muito lutadora, quanto maior a dificuldade, mais tenho vontade de vencer. Quando me colocam contra a parede, mais posso lutar.
Ela voltou ao poder em outubro de 1993, mas três anos depois foi destituída novamente por corrupção, má gestão econômica e pela morte extrajudicial de presos. A "líder dos pobres" paquistaneses, como ela mesma se definia, fez um "exílio voluntário" que terminou em 18 de outubro, após quase nove anos, quando o presidente Pervez Musharraf garantiu sua anistia.
Benazir deixou para trás o seu marido,
que os paquistaneses chamam de "senhor 10%", já
que cobrava comissões com esse valor para facilitar contratos públicos. Ele ficou vários anos presos antes de se unir à mulher no exílio em 2004.
Embora Benazir tenha sido condenada por corrupção e evasão da Justiça no Paquistão em 1999 e 2001, as sentenças foram canceladas por tribunais superiores. Este ano ainda continuavam abertos vários processos de corrupção contra os Bhutto, mas Musharraf os suspendeu por causa do pacto que os dois lados acertaram e que teve o apoio dos Estados Unidos.
Apesar de repudiar a "ditadura" de Musharraf durante estes anos, Benazir acabou negociando com o presidente e chefe do Exército paquistanês. Mesmo durante o exílio em Dubai e Londres, ela presidiu o PPP, principal força de oposição no Parlamento.
Muitos paquistaneses consideraram seu acordo de divisão de poderes com Musharraf uma traição. Benazir Bhutto teve três filhos que atualmente estão em Dubai com o pai, um homem chamado Bilawal e duas meninas: Bakhtawar
e Aseefa.
Benazir gostava de dizer que tinha uma personalidade lutadora e que era "líder dos pobres"
Foto:
T.Mughal, EFE
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