| 30/01/2008 10h35min
A polícia federal americana (FBI) abriu inquéritos contra 14 companhias para investigar possíveis fraudes contábeis, transações com informações privilegiadas e securitização de empréstimos relacionados a hipotecas de segunda linha (subprime).
Em mais um sinal dos efeitos resultantes da crise do setor hipotecário, a ação do FBI ocorre após a regulação leve da indústria - principalmente, das corretoras de hipotecas - ser apontada como uma das culpadas por vendas enganosas e abuso de produtos hipotecários. O porta-voz do FBI, Bill Carter, afirmou que a agência está trabalhando "em proximidade" com o órgão regulador do mercado de valores mobiliários norte-americano (a Securities & Exchange Commission, SEC), mas algumas das investigações estão ocorrendo em paralelo.
O porta-voz recusou-se a citar as companhias envolvidas, mas o FBI informou que está olhando supostas fraudes em vários estágios do processo hipotecário, de companhias que empacotaram os
empréstimos em novos produtos até bancos
que terminaram por deter esses produtos. O número de casos de fraude hipotecária abertos pelo FBI subiu de 436, em 2003, para 1.210 no ano fiscal em 2007, de acordo com informações do FBI.
— Nós consideramos a fraude hipotecária como um problema criminal significativo e em crescimento e uma área de preocupação. O combate a esse problema é uma prioridade diante do impacto do setor imobiliário na economia mais ampla — afirmou Carter.
Como já foi divulgado anteriormente, os procuradores federais do Brooklyn, Nova York e da SEC estão avaliando o colapso de dois fundos de proteção (hedge) do banco de investimento Bear Stearns. A SEC e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos também estão investigando o fornecimento de informações privilegiadas para a venda de ações e a contabilidade da New Century Financial, uma empresa de concessão de hipotecas que está em processo de falência.
Ontem, os bancos americanos Morgan Stanley e o Goldman Sachs
apresentaram documentos regulatórios
informando que receberam requerimentos de informações do governo e de agências regulatórias relacionadas a empréstimos subprime, mas as duas empresas não identificaram as agências que pediram a documentação. Também evitaram comentar o assunto.
O FBI informou que as investigações estão em um estágio inicial, observando ainda que as provas são complicadas, diante dos veículos financeiros sofisticados usados para estimular o boom dos negócios hipotecários nos últimos anos. O chefe da divisão de investigações criminais da seção de crimes financeiros do FBI, Sharon Ormsby, afirmou, em entrevista, que o empacotamento de empréstimos ruins com bons em um
único ativo torna qualquer eventual fraude difícil de desamarrar. — O
empacotamento desses empréstimos são tão amplos, que é difícil para nós separar cada um dos lotes e afirmar: OK, este é o empréstimo ruim que levou a um fracasso do processo de securitização", disse.
Parte das investigações da SEC está relacionada ao potencial uso de informações privilegiadas, com foco nas baixas contábeis mais amplas do que as projetadas e reveladas recentemente pelos bancos de Wall Street. A forma como as agências de avaliação de risco conferiram notas a esses ativos formados pelo empacotamento de hipotecas também faz parte do esforço, segundo o jornal norte-americano Financial Times.
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