| 16/06/2008 05h10min
— Aceita um sorvete? — perguntou-me a esposa de Frederico Arnaldo Ballvé quando me acomodei no sofá da sala do apartamento do casal.
Hesitei. Não gosto de aceitar acepipes de entrevistados. Mas fazia tanto calor, naquela tarde de verão do começo dos anos 90, que cheguei a sentir na língua a textura cremosa do sorvete. Antes que respondesse, ela sorriu, saiu da sala e retornou em cinco minutos com duas taças de sorvete do tamanho de cuias de chimarrão e dois copos de Coca com gelo. Serviu-nos, a mim e ao Ballvé, e deixou-nos outra vez. Enquanto eu estalava a língua, Ballvé sentenciou:
— Vou dizer uma frase que é tão verdadeira quanto dizer que este sorvete é gelado: o maior jogador da história do Inter foi Valdomiro!
Inclinei a cabeça, em dúvida.
— Mas e Falcão? — argumentei. — E Tesourinha?
— Esses foram os melhores. Mas Valdomiro foi maior. Jogou 13 anos no Inter e teve participação direta em todos os gols
decisivos do time.
Todos? Não era possível. Começamos
a relembrar. Valdomiro chegou ao Inter em 1969. O Grêmio era heptacampeão e tinha um time melhor. Naquele ano, não houve vitórias nos Gre-Nais, mas, na decisão, Valdomiro marcou um gol que foi anulado pelo juiz, causando uma confusão que deu ao Inter vantagem psicológica e garantiu o empate e o título. No ano seguinte, Valdomiro marcou o gol da vitória na final. Em 71, o Grêmio venceu mais Gre-Nais, o campeonato foi resolvido no Interior graças aos cruzamentos... de Valdomiro. Cruzamentos que, em 72, 73 e 74 consagraram Escurinho e decidiram os campeonatos.
Em 75, o Grêmio emparelhou e quase foi campeão. O Inter venceu o Gre-Nal na prorrogação, num lance em que Valdomiro cruzou para Flávio fazer, de virada, o gol do título. No mesmo 1975, Valdomiro simulou uma falta na decisão do Brasileiro, contra o Cruzeiro. Ele próprio se encarregou da cobrança, da qual saiu o gol de Figueroa. Era um título implausível. Porque o futebol gaúcho era apenas regional e porque os adversários eram seleções:
o Palmeiras
de Ademir, o Flu de Rivellino, o Cruzeiro de Nelinho. Em 1976, Valdomiro marcou o gol do bi. Em 1978, fez dois na decisão do Gauchão. Valdomiro foi decisivo até na Copa de 74, salvando o Brasil do vexame da desclassificação nas oitavas de final.
Por isso tudo, posso afirmar: tão certo quanto gelado era o sorvete de madame Ballvé — Valdomiro Vaz Franco foi o maior jogador da história do Inter.
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