| 20/09/2008 15h26min
Pablo Horácio Guiñazu, o herói da pequena General Cabrera, cidadezinha de 11 mil habitantes, próxima a Córdoba, ganhou o mundo aos 17 anos. Foi buscado em casa por um dirigente do Newell’s Old Boys, de Rosario, que o havia visto jogar pelo Acción, time amador da cidade. Desde aquele dia, El Cholo – apelido de infância, uma referência argentina para os mestiços (filhos de espanhóis com índios) começou a realizar seus sonhos. O primeiro: ser jogador de futebol. O segundo: conhecer Romário.
Músico Kako Kanidia, da banda Ataque Colorado, entrega CD com música criada especialmente para Guiñazu nas mãos do craque. Confira o vídeo:
É bem verdade que Guiñazu foi jogar com Romário somente no ano passado,
em São Januário, quando o Inter fez 2 a 1 no Vasco – foi a última partidas do
craque antes da aposentadoria. A idolatria ao atacante cresceu em 1997, quando o tetracampeão mundial Ricardo Rocha foi contratado pelo Newell’s. Tornaram-se grandes amigos, e o argentino sempre questionava o zagueiro sobre Romário.
– Romário sempre foi meu grande ídolo, depois do Maradona, é claro. Torci muito para que ele entrasse naquele Vasco x Inter (Romário estava no banco). Quando o vi aquecendo, pensei: “Vou contar aos meus filhos que joguei com Romário”. Que dia foi aquele – vibra Guiñazu.
Desde o começo da temporada, a camisa 5 do Inter é que mais vende nas lojas. A Reebok, fornecedora do material esportivo do clube, não tem números exatos, mas Guiñazu é o campeão de vendas.
– O Guiñazu tem grande empatia com a torcida. Vende mais do que Alex e Nilmar – garante o gerente da Reebok junto ao Inter, Edu Pesce.
Grande parte da empatia do jogador com os colorados está na sua forma de ser. Além de se doar em campo, jamais
deixa de atender um fã. Quando não está no
Beira-Rio, Guiñazu pode ser encontrado na sede do Grêmio Náutico União no bairro Petrópolis. É lá que o primogênito Mathias, sete anos, joga tênis. Foi o guri quem estimulou o pai a recusar proposta milionária do Al-Jazira, dos Emirados Árabes. Mathias adora a companhia do pai em suas aulas de tênis. O problema é que isso o força a chegar atrasado. Basta o volante despontar no clube para a gurizada se agitar e o cercar em busca de fotos e autógrafos.
Além dos apelos do filho, Guiñazu decidiu ficar por outros dois motivos: sossegar depois de rodar o mundo e seguir no ambiente familiar criado no Beira-Rio. Há 15 dias, por exemplo, todos os jogadores do Inter compareceram no aniversário de dois anos de Lucas, o caçula dos Guiñazu.
– Nunca vi o Guina de mau humor. Aliás, ele é o cara mais alto-astral que conheço. Chama a todos de “Fenómeno”. Já chega para os treinos gritando: “E aí, Fenomenaaaaaaaal?!” – diz Índio, tentando imitar o sotaque do argentino.
INTER
Clemer; Ricardo Lopes, Índio, Bolívar e Gustavo Nery; Edinho, Magrão, Guiñazu e D’Alessandro; Alex e Nilmar. Técnico: Tite.
VITÓRIA
Viáfara; Rafael, Leonardo Silva, Anderson Martins e Marcelo Cordeiro; Renan, Vanderson, Willans, Ramon e Leandro Domigues; Osmar. Técnico: Vagner Mancini.
Família unida
Ao contrário de muitos outros jogadores, Guiñazu não teve uma infância pobre. O pai, Juan, 59 anos, é dono de uma transportadora de grãos em General Cabrera. Lá, os irmãos mais velhos de Guiñazu, Juan Eduardo, 40, e Guillermo Javier, 38, tomam conta da empresa. Único jogador na família Guiñazu, Pablo e a
mulher, Érika, ganharam o mundo. Deixaram Cabrera, viveram em Rosario, Buenos Aires, Peruggia, na Itália, Moscou, na Rússia,
e Assunção, no Paraguai, antes de chegar a Porto Alegre.
– Esse menino nasceu para jogar futebol. É a vida dele. Mesmo quando havia a possibilidade de ser vendido para os árabes, jamais tirou o pé – lembra Juan, o pai-coruja.
Na seleção
Foram três jogos pela Argentina, em fevereiro de 2003, por uma seleção doméstica formada para enfrentar Honduras, México e EUA. Guiñazu foi um dos poucos a atuar nos três amistosos. Formou meio-campo com Battaglia, Lucho González e D’Alessandro. O goleiro era Saja. O volante foi um dos poucos a atuar em todos os amistosos – contra Honduras, México e EUA. Voltou em alta com Marcelo Bielsa, mas depois acabou esquecido.
Ele corre no treino e em casa
A alegria não é a única característica de Guiñazu que contagia os companheiros. Sua disposição em campo faz o time se mexer. Entre a comissão técnica, ele é apontado como
fenômeno. O médico e fisiologista Luiz Crescente ressalta que a palavra correta para
definir a disposição de Guiñazu vem do inglês – e não tem tradução para o português.
– A palavra é stamina. Um misto de fator psicológico, aliado à garra e à capacidade de sacrifício em esforço prolongado. Na parte física ele é igual aos demais. Na personalidade, porém, é quase um extraterrestre. Nada está perdido para ele. Nunca – define Crescente.
Guiñzau é incansável. Quando acha que correu pouco no treino ou suou menos do que deveria, faz hora extra em casa. Há alguns meses, comprou uma esteira moderna e a instalou em um cômodo do apartamento no bairro Três Figueiras. Depois de percorrer 14 quilômetros, em média nos treinos, ainda cumpre mais alguns para completar o expediente.
– Sou irrequieto. Não consigo ficar parado – justifica Guiñazu.
Entre as inquietudes do volante está o retorno ao time 13 dias depois de sofrer artroscopia no joelho esquerdo, a tempo de jogar a final do Gauchão. Ele surpreendeu os fisioterapeutas ao
correr oito dias depois da operação. Eles que
pensavam ser impossível se espantar com o argentino que corre de moletom e capa no ápice do verão gaúcho. A esquisitice foi uma concessão dos médicos do Inter. Eles desistiram de convencê-lo de que não seria saudável bloquear o suor.
– Guiñazu tem fibras de contração lenta, mais resistentes à fadiga. Isso permite que ele mantenha sempre a mesma rotação nos jogos. É um caso raro, como o Cafu, que também terminava uma partida como se ela estivesse começando – explica o preparador físico Fabio Mahseredjian.
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