| 14/10/2003 12h21min
A capital da Bolívia, La Paz, amanheceu nesta terça, dia 14, tomada por tanques, veículos blindados e soldados no momento em que se intensificam os protestos contra o presidente, Gonzalo Sánchez de Lozada, que começaram há quatro semanas e nos quais já morreram 52 pessoas.
Sánchez de Lozada encontrou-se com seus aliados políticos nesta terça para tentar impedir o aumento do racha em sua coalizão. Enquanto isso, líderes indígenas e sindicalistas convocavam mais bloqueios de estradas para protestar contra as políticas federais.
Em entrevista à rádio Mitre na manhã desta terça, o líder dos índios aimaras, Felipe Quispe, um dos articuladores dos protestos, voltou a pedir a renúncia do presidente e admitiu que sua intenção é tomar o poder no empobrecido país andino.
– Pretendemos tomar o poder como indígenas. Vamos levar adiante um sistema de governo próprio e terminar com a matança que esse presidente está realizando – afirmou.
O presidente, em entrevista à CNN, mencionou que o grupo peruano Sendero Luminoso está entre os supostos conspiradores estrangeiros que pedem o fim de seu governo. Não há comprovações sobre a acusação.
Durante a manhã, La Paz estava paralisada, apesar de não ter havido relatos sobre incidentes. As Forças Armadas, em um comunicado feito à meia-noite da segunda, prometeram atuar "com maior firmeza para garantir a ordem pública e a tranquilidade do país''.
As principais ruas e avenidas de La Paz estavam bloqueadas por pedras, as aulas foram suspensas nas escolas privadas e os professores das escolas públicas continuavam em greve assim como os trabalhadores do setor de transportes. A cidade enfrenta falta de alimentos e de combustível.
Na segunda, dia 13, o presidente sofreu um golpe com a renúncia de um de seus ministros e das críticas feitas pelo vice-presidente devido à repressão contra as manifestações.
Os protestos contra Sánchez de Lozada deixaram na segunda 14 mortos em La Paz e provocaram quebra-quebra em outras cidades, segundo a Assembléia Permanente de Direitos Humanos. Meios de comunicação locais, porém, falaram em até 28 mortos na principal cidade do país.
Transitar por suas ruas com veículos transformou-se em uma missão perigosa nos últimos dias, devido à ameaça de alguns manifestantes de incendiar automóveis.
Os protestos começaram quatro meses atrás devido a um projeto de exportação de gás natural para os Estados Unidos através de um porto do Chile, país que deixou a Bolívia sem saída para o mar depois de uma guerra ocorrida no final do século 19. O projeto serviu como estopim para as manifestações, que agora exigem a renúncia de Sánchez de Lozada, defensor de reformas neoliberais e aliado dos EUA no combate ao narcotráfico. O presidente afirmou que não deixará o cargo.
As informações são da agência Reuters e Globo News.
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