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 | 11/03/2005 11h28min

Novas tecnologias mudam o jornalismo no 11 de março

Há um ano, informações via celular e internet desmentiram versão oficial

As explosões que destruíram há um ano os trens e a vida de 191 pessoas em Madrid mostraram que a tragédia é o grande impulsionador dos novos meios de comunicação que se baseiam em novas tecnologias e no conceito de tempo real. O 11 de setembro, ocorrido cabalisticamente 911 dias antes dos atentados na Espanha, mudou radicalmente a forma como as pessoas acessam as notícias. Os atentados de Madri confirmaram isso e agregaram um novo ingrediente, deram início ao que hoje já se convenciona como jornalismo cidadão.

A quinta-feira, 11 de março de 2004, estava a três dias das eleições espanholas. O PP, do então primeiro ministro José Maria Aznar, era o favorito no pleito contra os socialistas do PSOE. O governo espanhol estava na primeira fila dos países que apoiaram a invasão ao Iraque para destituir Sadam Hussein, os socialistas, liderados por Zapatero, defendiam a volta pra casa dos soldados espanhóis.

Tão logo ocorreram as explosões nas três estações de Madri, o governo apressou-se para responsabilizar o vilão de sempre, os separatistas bascos do ETA. A imprensa comprou a idéia e estampou nas capas dos principais sites e nas manchetes dos programas noticiosos das emissoras estatais a responsabilidade dos bascos nos atentados. Os editores das edições online dos jornais agiram muito rápido e ofereceram todo tipo de informação possível para um meio de poucos limites como a internet. Além de fotos, áudios, vídeos, infografia e animações, os veículos de comunicação na web ainda abriam espaço para os testemunhos da população em chats, fóruns e blogs. Mas havia um outro meio que não estava sob controle nem das empresas de mídia nem do governo.

Os telefones celulares utilizados para detonar as bombas serviram também para desarmar a mentira. A versão que condenava o ETA foi caindo nas 72 horas que separavam os atentados das eleições. Surgiram pistas que levantaram suspeitas de que poderia ser um atentado provocado por terroristas islamitas, um vídeo atribuído a rede Al-Qaeda, que reivindicava a autoria dos atentados, e a prisão de alguns suspeitos. Essa série de acontecimentos semeou a dúvida na população que começou a questionar a versão oficial.

No vazio de informações confiáveis, pequenos grupos foram se formando espontaneamente em frente à sede do PP em Madri. A população foi se unindo a esses poucos, conclamada por diversos grupos políticos e movimentos sociais. O número de manifestantes foi crescendo, atendendo a chamados feitos por mensagens de SMS, os torpedos, enviados de telefones celulares. Fóruns de discussão na internet e blogs divulgavam, minuto a minuto, o ritmo do movimento.

Os celulares recebiam mensagens como "queremos saber antes de votar", "éste es el precio del petróleo", "vuestra guerra, nuestros muertos", "no estamos todos, faltan 200".

Em frente à sede do PP reuniram-se 5 mil pessoas, em Barcelona sete mil e assim foi por toda a Espanha, chamados da mesma forma. Em Sevilha, em Valência e até em Bilbao, capital do País Basco. E o PSOE ganhou as eleições.

Os novos meios de comunicação, como internet e telefones móveis, interativos por natureza, ajudaram a revelar depois dos atentados na Espanha duas questões relevantes. Comprovaram sua vocação para a agilidade, mas reforçaram o senso de que os profissionais de imprensa não devem jamais confundi-la com pressa, e que definitivamente o jornalismo precisa incluir no seu cotidiano a participação da audiência.

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