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 | 10/03/2005 19h45min

Tragédia do 11 de março em Madri completa um ano

Atentados terroristas mataram 192 pessoas e feriram 1,5 mil

O 11 de março deixou de ser uma simples data no calendário para o povo espanhol. Nesta sexta, a tragédia terrorista que abalou e mudou os costumes da capital Madri completa um ano. Naquela manhã, uma série de 10 bombas atingiram quatro trens metropolitanos matando 192 pessoas e deixando mais de 1,5 mil feridas.

As explosões causaram pânico e derramaram sangue por volta das 7h30min (horário local). Milhares de pessoas iam trabalhar ou estudar passando pela Estação de Atocha e pelas plataformas de embarque e desembarque dos terminais de El Pozo e Santa Eugenia, situados no sudeste e no sul da cidade. A imagem dos ataques a Nova York, em 11 de setembro de 2001, voltava a assombrar o mundo.

Classificado como o maior crime numa grande capital européia desde a Segunda Guerra Mundial, o 11 de março deixou dúvidas e provocou grandes reações. Inicialmente, o governo do primeiro-ministro José María Aznar acusou o ETA – o nome completo é Euskadi Ta Askatasuna, que significa Pátria Basca e Liberdade – de arquitetar e executar a carnificina. Mais tarde, surgiram indícios de que se poderia tratar de nova investida da rede Al-Qaeda, do saudita Osama bin Laden. A falsa acusação custou caro a Aznar.

Pesava contra o ETA os constantes crimes cometidos sob a justificativa de atingir a independência do País Basco – mais de 800 pessoas morreram nos últimos 35 anos em ações do grupo separatista. Aznar, que em abril de 1995 escapou ileso de um atentado com carro-bomba, estava convicto no envolvimento dos rebeldes. O primeiro-ministro fez um pronunciamento, momentos após o atentado, prometendo encontrar e julgar os responsáveis, além de sugerir a cumplicidade do ETA. Depois da descoberta de envolvimento de militantes islâmicos na investida, jornais espanhóis revelaram que Aznar telefonou para embaixadores e até mesmo para jornalistas pedindo que ambos jogassem a culpa sobre o ETA.

A imagem pública do político despencou. Os mesmos espanhóis que saíram às ruas de todo o país para protestar contra a barbárie – no dia seguinte ao atentado, uma grande manifestação, sob o lema Com as Vítimas, com a Constituição, pela Derrota do Terrorismo, pediu paz e punição aos responsáveis quando mais 11 milhões de espanhóis cruzaram os braços por 15 minutos – responderam às atitudes de Aznar nas urnas. O ataque terrorista ocorreu quatro dias antes das eleições gerais do país, que culminou com uma grande derrota do Partido Popular.

Com 43% dos votos, Luis Rodríguez Zapatero, do Partido Socialista dos Trabalhadores, foi alçado ao cargo de primeiro-ministro. O resultado demonstrou uma clara punição ao apoio dado por Aznar ao presidente dos Estados Unidos, George W.Bush, na guerra contra o Iraque. Durante as investigações, a polícia de Madri prendeu 10 militantes inslâmicos suspeitos e localizou uma carta que justificava a ação pelo fato da Espanha estar no país do ex-presidente Saddam Hussein. Zapatero não perdeu a oportunidade e foi eleito com a promessa de retirar os 1,3 mil militares espanhós da guerra.

Tentando minimizar a dor espanhola, diversos chefes de Estado mundo afora prestaram homenagens e ofereceram solidariedade. Nesta quinta, dia 10, o Congresso dos Deputados realizou uma sessão solene de respeito às vítimas. Os parlamentares fizeram cinco minutos de silêncio e divulgaram uma carta de repúdio ao terrorismo. Segundo o jornal El Pais, o presidente da Casa, Manuel Marín, disse que cada atentado terrorista é um brutal ataque à convivência pacífica. Ele agradeceu ainda a solidariedade com as vítimas.

A busca pelos culpados nunca teve sucesso por completo. No dia 3 de abril, uma operação policial em Leganés, nas proximidades de Madri, resultou na morte de seis terroristas. De acordo com as investigações, todos cometeram suicídio ao provocarem uma explosão no prédio em que se escondiam. Entre os mortos, estavam os dois cérebros dos atentados: Serhane Ben Abdelmajid e Jamal Ahmidan.

O 11 de março também trouxe à Europa a tentativa de ampliar o aparato de segurança, que varreu os EUA após os atentados ao World Trade Center. Países como Inglaterra e França reforçaram o policiamento em locais públicos. Mesmo assim, o terror voltou a causar mortes e medo. Em 1º de setembro, um grupo de seqüestradores chechenos invadiu uma escola na cidade de Beslán, na Ossétia do Norte, na Rússia. A operação de resgate foi mal sucedida e a tragédica acabou com mais de 400 mortos.

A paranóia não parou por aí e chegou ao esporte. Em 12 de dezembro, a partida entre Real Madrid e Real Sociedad, disputada na capital espanhola, foi interrompida devido a uma ameaça de bomba. O jornal Gara recebeu o aviso em nome do ETA de que uma bomba iria explodir no estádio Santiago Bernabeu às 21h (horário local). A evacuação aconteceu às 20h45min. A polícia localizou uma mochila suspeita, mas nenhum vestígio de explosivos foi encontrado. A Real Sociedad é da cidade de San Sebastian, no País Basco. O medo continua a assombrar a Espanha.

Veja imagens dos atentados em Madri

HECTOR WERLANG
 
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