| 20/04/2005 00h24min
O líder da guerrilha libanesa Hezbollah qualificou nesta terça, 19, de insensata a exigência do Conselho de Segurança da ONU para que o grupo se desarme e disse que seu contingente vai manter suas armas enquanto Israel representar uma ameaça para o Líbano.
O xeque Hassan Nasrallah, em uma rara entrevista a meios de comunicação internacionais, disse que o movimento, apoiado pela Síria, é considerado um grupo de resistência legítima pelos libaneses, e não uma milícia, como diz a resolução do Conselho patrocinada pela ONU.
– Esse artigo não significa nada – disse Nasrallah na entrevista, que se seguiu à formação de um novo governo para guiar o Líbano até as eleições parlamentares previstas para maio.
– Eu digo claramente, há duas razões para a resistência: a terra ocupada e a ameaça de agressão. Quando a ameaça de agressão cessar e não houver terra ocupada, não há razão para resistência – disse Nasrallah.
O xeque afirmou que o movimento xiita está disposto a negociar o desarmamento com outros atores libaneses, mas rejeitou a resolução por ser uma interferência estrangeira inspirada por Israel para privar o Hezbollah de suas armas "para poder fazer o que quiser". A resolução 1.559 da ONU, patrocinada pelos Estados Unidos e pela França e aprovada em 2 de setembro, exige a retirada de todas as tropas sírias do Líbano e "a debandada e desarmamento de todas as milícias libanesas e não-libanesas".
O foco nas armas do Hezbollah deve crescer depois que a Síria aceitou retirar suas tropas do Líbano até 30 de abril, encerrando 29 anos de presença militar. Washington considera o Hizbollah um grupo terrorista, e o presidente George W. Bush disse em entrevista divulgada nesta terça que o movimento tem de se desarmar.
– Não se pode ter um país livre se um grupo de pessoas são como uma milícia armada – disse Bush à emissora libanesa LBC
Ele afirmou que o Hezbollah, apoiado também pelo Irã, está tentando não só desestabilizar o processo de paz entre palestinos e israelenses como também "impor sua vontade a uma sociedade livre".
A Síria reiterou nesta terça seu apoio ao Hezbollah, durante uma reunião de chefes militares e de inteligência em Nasrallah.
– Não importa quão severas sejam as provas, nada divide a Síria do Líbano e a Síria da resistência – disse o chefe da segurança síria no Líbano, Rustum Ghazaleh, após a reunião.
Após sete semanas de impasse, o novo primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, anunciou a formação de um novo gabinete. Com isso, é possível que as eleições de maio sejam realizadas no prazo.
Nasrallah disse que a formação do gabinete vai ajudar o Líbano a resolver sua crise política, mas não quis especular sobre a realização das eleições no prazo, limitando-se a dizer que elas devem ocorrer "assim que possível".
O Hezbollah é a maior força política individual do Líbano, mas nunca participou do governo. Ele foi o único grupo a manter suas armas depois da guerra civil (1975-90) e teve papel importante na saída das tropas israelenses do sul do Líbano, em 2000. Mas Nasrallah prometeu continuar lutando enquanto Israel permanecer na região conhecida como Fazendas Shebaa, um pedaço de terra na fronteira entre Israel e as colinas do Golã, território sírio ocupado por Israel desde 1967.
O Líbano diz que as Fazendas Shebaa são suas, enquanto a ONU considera que se trata de território sírio sob ocupação israelense. Nasrallah disse que a aviação israelense viola regularmente o espaço aéreo libanês e questionou se o mundo faria algo para impedir um ataque de Israel ao país.
– Apreciamos o papel da ONU, mas nem todas as suas resoluções são justas. Todo mundo sabe que o Conselho de Segurança tem dois pesos e duas medidas.
A oposição anti-síria do Líbano, formada principalmente por cristãos, druzos e alguns sunitas, está dividida sobre a pressão para que o Hezbollah se desarme.
– Esta é uma questão interna libanesa. Há vários temas delicados que precisam de diálogo e discussão. Não rejeitamos qualquer diálogo interno, mas rejeitamos qualquer interferência estrangeira, afirmou Nasrallah.
As informações são da agência Reuters.
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