| 17/06/2005 22h07min
No dia em que reassumir seu mandato de deputado federal, após 30 meses no Palácio do Planalto, José Dirceu será recepcionado com o convite para depor no Conselho de Ética da Câmara. A informação é do presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), em entrevista à agência Reuters nesta sexta, dia 17.
O conselho avalia pedido de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que na terça-feira confirmou suas denúncias sobre um suposto esquema de compra de parlamentares do PP e do PL pelo PT. Por essas denúncias e pelo fato de Jefferson ter sido acusado de estar envolvido em corrupção nos Correios, o PL pediu a abertura de processo na Câmara contra o petebista.
Em seu depoimento de quase sete horas, Jefferson não apresentou prova material, mas apresentou várias informações e insinuações. Preservou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atacou Dirceu e expôs seu partido ao admitir ter recebido R$ 4 milhões do PT para financiar campanha de políticos do PTB em 2004. O acordo eleitoral, segundo ele, foi homologado por Dirceu e operado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares – acusado por Jefferson de operar o esquema de compra de votos no Congresso –, e outras figuras ligadas ao PT.
Embora seu depoimento tenha disso considerado brilhante por muitos, Izar, mesmo sendo seu correligionário, não gostou de ver o PTB exposto desse modo. Pior ainda, Jefferson garantiu que a proposta de mesadas, submetida à bancada do partido, foi recusada por unanimidade por meio de votação.
– Eu não soube dessa reunião nem nunca soube do mensalão – disse Izar, colocado numa situação delicada por presidir um órgão que investiga o agora presidente licenciado de seu partido.
– O depoimento do Roberto Jefferson ampliou o quadro, porque ele saiu de denunciado para denunciante. Ele retirou todo o foco dos Correios de cima dele. Ele fez uma tática muito inteligente ao transferir para o (caso) do mensalão. Muitas vezes a gente sente que ele não falou a verdade, mas ele foi um artista – disse.
Para ele, a chegada de José Dirceu ao Congresso não mudará o rumo das investigações. Pelo contrário, elevará o nível do debate e dará oportunidade para que ele, como deputado, tenha mais espaço para rebater as acusações de Jefferson. Izar irá evitar acareações durante o inquérito para não transformar o Conselho de Ética em "palco de batalha".
Na próxima terça-feira, Izar procurará o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para discutir a possibilidade de não haver recesso parlamentar por meio de autoconvocação não-remunerada. Se não for possível evitar o recesso, os trabalhos serão suspensos durante todo o mês de julho, o que enfraqueceria as investigações. Izar espera terminar as investigações em dois meses, 30 dias a menos que o prazo para conclusão dos trabalhos.
As informações são da agência Reuters.
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