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 | 23/03/2006 14h58min

Agricultores de 52 países levam à OMC oposição a corte de tarifas

Grupo afirma que proposta do Brasil acabará com pequenos agricultores

Representantes de agricultores de 52 países expressaram hoje, em Genebra, sua preocupação devido à evolução das negociações da Rodada de Doha, que acontecem na Organização Mundial do Comércio (OMC), e expressaram sua oposição à redução das tarifas agrícolas.

Os diferentes grupos de agricultores, tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento, informaram sobre a reunião que tiveram na quarta-feira com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.

O presidente do Comitê das Organizações Agrárias européias (Copa), Rudolf Schwarzbock, informou que tinham expressado a Lamy que, se continuar o modelo de agricultura baseado na redução das tarifas agrícolas – conforme proposta de alguns países, como o Brasil – os "pequenos agricultores desaparecerão em nossos países".

A reunião teve a participação de representantes dos pequenos agricultores da Suíça, Canadá, Japão, Noruega, Coréia, Indonésia, Islândia e Sri Lanka, assim como dos países da União Européia (UE) e África do Leste.

Os 150 países da OMC decidiram em dezembro passado, após a conferência ministerial de Hong Kong, que 30 de abril será a data na qual devem ser concluídas as modalidades ou fórmulas para a redução de tarifas e melhor acesso aos mercados em agricultura, bens industriais e serviços, assim como rumo à eliminação dos subsídios aos agricultores.

Em Hong Kong, houve também a decisão de que, em 2013, ficariam suprimidos os subsídios às exportações agrícolas.

Os agricultores pediram hoje, durante a entrevista coletiva, tratamento especial e diferenciado para os países em desenvolvimento, para incluir as preocupações dos "agricultores mais pobres, vulneráveis e menores", assim como que suas necessidades no âmbito do desenvolvimento rural e alimentação sejam consideradas. Concretamente, são favoráveis à aplicação de níveis e formas de tarifas agrícolas que dependam das características dos produtos de cada país.

Afirmaram também que cada país deve poder escolher um número de produtos "sensíveis ou especiais", que receberão mecanismos e tarifas mais flexíveis para proteger esses mercados nacionais, assim como propuseram os países em desenvolvimento em Hong Kong.

– O corte de tarifas é absolutamente inaceitável – sustentaram os participantes da reunião, que se mostraram preocupados com o fato de a OMC apoiar a posição dos maiores países exportadores, como o Brasil. Sobre esse país, os representantes coincidiram em dizer que "o Brasil pede sempre mais".

Além disso, o presidente do Copa, Rudolf Schwarzbock, sustentou que "os pequenos agricultores, especialmente os dos países em desenvolvimento, não têm nenhuma oportunidade se outros países se mostrarem agressivos e tomarem seus mercados".

Quanto à posição da União Européia, Schwarzbock disse que o comissário do Comércio europeu, Peter Mandelson, "já apresentou flexibilidade suficiente em suas propostas, especialmente na questão do acesso ao mercado", e que "agora é a vez de outros países fazerem avanços".

Por esse motivo, Mandelson disse que o objetivo das conversas da OMC é buscar "o que se pode fazer de vantajoso para os países em desenvolvimento, e não o que a Europa deve fazer".

Sobre a ausência de representantes de países latino-americanos no grupo desses 52 países, um representante canadense expressou seu desejo de que estes se juntem a seu grupo nos próximos meses, já que "os agricultores dali estão nas mesmas condições" que os outros.

AGÊNCIA EFE
 
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