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 | 06/05/2006 12h41min

Kirchner nacionaliza conflito com Uruguai sobre fábricas de celulose

Presidente argentino pediu que país se una contra indústrias

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, nacionalizou hoje o litígio com o Uruguai pela instalação de duas fábricas de celulose neste país e pediu que o "norte escute o sul" para que "juntos" colaborem na defesa do meio ambiente.

Em um grande ato em Gualeguaychú, cidade que se colocou à frente da batalha contra a construção das fábricas, Kirchner exibiu o apoio político interno obtido após a decisão de levar o conflito à justiça internacional.

Cercado de governadores, ministros, dirigentes sindicais e legisladores governistas e da oposição, Kirchner disse que a controvérsia gerada pelas fábricas de celulose no lado uruguaio do rio que divide os dois países, "diz respeito a todos os argentinos".

– Gualeguaychú e a província de Entre Ríos não estão sós nesta luta. A Argentina a assume como um problema próprio – disse Kirchner, antes de afirmar que seu país escolheu o "caminho do direito, a prudência e a racionalidade" ao denunciar o Uruguai na Corte Internacional de Justiça de Haia na quinta-feira.

O governante disse que o país vizinho violou o Estatuto do Rio Uruguai, subscrito pelos dois países em 1975, ao autorizar unilateralmente a instalação das fábricas de celulose que começaram a ser construídas na cidade uruguaia de Frey Bentos pela empresa espanhola Ence e a finlandesa Botnia.

– Ninguém pode reivindicar soberania para o uso de um bem que não é inteiramente próprio. O rio Uruguai é um curso d'água internacional e deve ser protegido. Por isso é que criamos um estatuto há mais de 30 anos – disse.

Kirchner reiterou que o Uruguai se negou a dar informações sobre as fábricas de celulose e a promover um estudo sério sobre o impacto ambiental, atitudes reivindicadas pela Argentina desde o início da controvérsia.

– Temos a razão. O direito está do nosso lado – disse o presidente, referindo-se às conseqüências do requerimento perante a Corte de Haia, o principal órgão judicial das Nações Unidas.

Kirchner, que assinou com os governadores uma ata na qual a preservação do ecossistema foi classificada como "política de Estado", pediu aos países desenvolvidos que "respeitem o meio ambiente" e "não transfiram empresas poluentes para o mundo em desenvolvimento".

– A América Latina considera o direito à vida como um bem supremo e deve assumir a luta para que os países centrais não nos dividam em função de seus interesses, aproveitando nossas carências e eximindo-se de suas responsabilidades em relação à degradação do meio ambiente – enfatizou.

O governador de Entre Ríos, Jorge Busti, também discursou e destacou a "irmandade" existente entre sua província e o Uruguai, além de lamentar que "todas as vias diplomáticas tenham sido esgotadas" para resolver o conflito.

– Pedimos a nossos irmãos gêmeos que escolham o processo de crescimento que queiram, mas que não nos contaminem com atividades que afetarão uma província inteira e, em particular, uma cidade que tem 80 mil habitantes e que vive da agricultura e da pecuária – indicou.

Busti também reconheceu "a luta e a maturidade" dos habitantes de Gualeguaychú, que bloquearam, várias vezes nos últimos meses, a ponte que liga a cidade a Frey Bentos, como um protesto pela instalação das fábricas.

O governo uruguaio, por sua vez, rejeita os argumentos argentinos e dá pleno apoio à construção das fábricas de celulose, que trarão investimentos de US$ 1,8 bilhão, os maiores da história do país.

AGÊNCIA EFE
 
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