| 12/08/2002 08h46min
O novo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, declarou na segunda-feira, dia 12, um estado de emergência limitado e criou um novo imposto que vai arrecadar US$ 778,5 milhões contra o que ele chama de "regime do terror'' criado pelas guerrilhas, que já mataram mais de cem pessoas desde sua posse. Uribe tomou posse na quarta-feira, dia 7, no momento em que acontecia uma séria de explosões em Bogotá, matando 20 pessoas.
O estado de emergência foi anunciado pelo ministro de Interior e Justiça, Fernando Londoño, que não deu detalhes de seu funcionamento. O decreto afirma que continuam mantidas todas as garantias constitucionais e que o estado de emergência vale por 90 dias, renováveis por mais 90. O gabinete de Uribe passou todo o domingo, dia 11, reunido para discutir as novas medidas. A ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez, disse que o imposto de guerra vai financiar a criação de dois batalhões de elite, com 3 mil soldados, e a contratação de 10 mil policiais.
A Colômbia está há 38 anos imersa numa guerra civil que atualmente envolve o governo, duas grandes guerrilhas marxistas (Farc e ELN) e paramilitares de direita. Só na última década, foram 40 mil mortos. Uribe, 50, um advogado e ex-governador de direita, ganhou as eleições com a promessa de endurecer o trato com os guerrilheiros e aumentar o orçamento do Exército.
O novo imposto representará uma taxa de 1,2 % sobre o patrimônio de pessoas ricas e grandes empresas. Essa é uma das exigências feitas reservadamente por parlamentares norte-americanos para a concessão de mais ajuda financeira à Colômbia. O dinheiro arrecadado com o imposto será entregue aos militares, cuja parcela no Orçamento nacional é uma das menores da América Latina.
Por causa do estado de emergência, Uribe poderá governar por decreto, o que tira importância do Congresso. Os ex-presidentes César Gaviria e Ernesto Samper também decretaram estado de emergência contra a violência. Ao anunciar a medida, o ministro Londoño disse que a democracia colombiana está sob risco, e leu uma larga lista de crimes de guerra cometidos por grupos armados, como massacres, sequestros, destruição de aldeias e deslocamentos forçados de população.
– A nação está sujeita a um regime de terror no qual a autoridade democrática está afundando e onde a atividade econômica está cada vez mais difícil, multiplicando o desemprego e a pobreza para milhões de colombianos – afirmou.
Ele disse ainda que as medidas são uma resposta à campanha ''renuncie ou morra'', lançada pela maior guerrilha do país, as Farc. Por causa dessas ameaças, dezenas de prefeitos de todo o país já deixaram seus cargos, deixando suas cidades sem nenhuma presença do Estado.
Na quarta-feira, as Farc fizeram um ataque sem precedentes, colocando vários morteiros, acionados por controle remoto, numa rua próxima ao edifício colonial do Congresso, onde Uribe tomava posse. Duas granadas atingiram também o palácio presidencial e outra acabou explodindo numa favela, matando 20 moradores de rua. Essa ação mostrou que as Farc, normalmente confinadas às zonas rurais, agora têm capacidade para a guerrilha urbana.
Analistas dizem que parte desse crescimento da guerrilha se deve ao financiamento do narcotráfico, que continua alimentando a guerra civil de vários lados, apesar do US$ 1,5 bilhão já entregue pelos Estados Unidos à Colômbia para combater o problema. Grupos de direitos humanos criticam a maneira como Uribe quer combater a guerrilha, especialmente o projeto de criar 1 milhão de informantes civis no interior, para facilitar o trabalho da polícia e das Forças Armadas.
Uribe, que durante a campanha sobreviveu a um atentado a bomba, prometeu aumentar em um terço o orçamento militar do país. Especialistas afirmam que só o diálogo poderá acabar com a guerra civil, mas entendem que antes será necessário que a guerrilha sinta o poder dos militares, talvez num processo de vários anos. O novo presidente pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) para intermediar um processo de paz, mas exigiu que antes as Farc suspendam suas ações violentas. As informações são da agência Reuters.
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.