| 26/10/2002 00h04min
O gestão do PT no Estado do Rio Grande do Sul foi a principal estratégia do governista José Serra (PSDB) para atingir seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no quarto bloco do debate entre os candidatos à Presidência da República, realizado na noite desta sexta, dia 25, na Rede Globo.
O primeiro tema bloco foi transportes públicos. Pela ordem de sorteio, Lula foi o primeiro a responder o questionamento de um dos eleitores. O petista disse que é preciso criar linhas de crédito para a construção de metrô e trens. Segundo ele, o investimento no transporte urbano deve ser prioridade do governo federal. Serra declarou que seu plano de governo para o setor prevê o investimento de R$ 22 bilhões.
– Nas grandes cidades muito concretamente o metrô é a solução para o transporte urbano. Quero investir em cidades onde não há metrô – explicou Serra.
Lula criticou a facilidade com que Serra prometeu investimentos de R$ 22 bilhões. O petista disse que o governo do qual o tucano faz parte fez uma previsão de R$ 7,8 bilhões para o setor e, no Exterior, não há facilidade para conseguir recurso.
Questionado pelo mediador Willian Bonner sobre a implantação de trens como solução de transporte para os grandes centros urbanos, José Serra citou o projeto do ex-governador Mário Covas como exemplo positivo e disse que o governo do PT no Rio Grande do Sul não investiu no setor.
Medidas para conter a inflação foi a primeira pergunta destinada a Serra. O tucano disse que o tema é uma das questões fundamentais de seu governo e que para isso é necessário responsabilidade fiscal. Serra também disse que a inflação atualmente está atrelada à alta do dólar, que, segundo ele, deve recuar.
Ao comentar a resposta do adversário, Lula disse que a briga contra a inflação será ganha em seu governo:
– O Estado não pode gastar mais que arrecada e neste quesito os governos do PT têm dado um exemplo – disse Lula.
Serra mais uma vez atacou o governo petista do Rio Grande Sul. Segundo ele, a gestão de Olívio Dutra (PT) não é exemplo de responsabilildade fiscal, já que tem o maior déficit fiscal e 9% dos pagamentos estão atrasados.
Questionado por Bonner sobre a possibilidade de reduzir taxas de juros, mesmo com a inflação alta, Lula disse que a inflação não vai subir e garantiu ser a única opção para a construção de um pacto social. Serra entendeu o comentário como uma agressão e classificou a atitude de "arrogância". Lula rebateu dizendo ser a única possibilidade porque seu adversário já está no governo há oito anos e "não fez muita coisa".
Lula prometeu combater o desemprego e disse que isso será uma obsessão em seu governo. Segundo ele, o Brasil precisa gerar 10 milhões de empregos. Ele prometeu criar quantos empregos forem possíveis sem, no entanto, estabelecer números. O petista prometeu também crescimento da poupança interna e financiar a agricultura familiar e as pequenas empresas.
Serra também disse que o combate ao desemprego é uma prioridade sua, e atacou mais uma vez a adminstração do PT no Rio Grande do Sul acusando o governador Olívio Dutra de não criar os empregos que havia prometido. O tucano leu uma resposta dada pelo candidato petista ao governo do Rio Grande do Sul Tarso Genro, em que este diz que todo governo erra e acerta, o que também valeria para o governo FH.
– Governar, Lula, é mais difícil do que criticar – disse Serra.
Lula defendeu a gestão petista gaúcha, argumentando que o Estado do Rio Grande do Sul foi o que mais cresceu nos últimos anos.
William Bonner perguntou se o candidato Serra apoiaria a reforma da CLT, e este disse que sim, sem retirar os direitos fundamentais como férias e 13º salário. Ele citou o banco de horas como uma flexibilização necessária. Para a mesma pergunta, Lula lembrou que vários sindicatos da CUT já trabalham com banco de horas e que também defende a reformulação da CLT, mas que esta deve ser feita a partir de um pacto social.
Um dos momentos de maior tensão entre os candidatos nesta parte do debate foi em relação à educação. Serra criticou a declaração do petista contrária à progressão continuada nas escolas, afirmando que PT "quer jogar fora crianças junto com água do banho". Segundo ele, esta atitude teria apenas motivação "eleitoral".A declaração do tucano levou Lula a se irritar e pedir um direito de resposta durante o debate. Lula esclareceu que não é contrário à progressão continuada e, sim, à aprovação automática, e que isso não é a regra básica da progressão continuada. Ele afirmou que é preciso aplicar teste para avaliar se as crianças acompanham às demais em suas salas de aula.
– A aprovação automática é um equívoco. Nós não queremos quantidade, mas qualidade. Só tem sentido a criança ir para a escola se for para aprender. Então precisamos qualificar os professores – disse o petista.
Sobre educação, Serra afirmou que pretende investir muito nos professores. Lula lembrou que a proposta do PT para a educação é baseada na teoria do educador Paulo Freire.
O único confronto entre Serra e Lula no segundo turno teve formato inédito: os dois ficaram de pé, em uma arena, cercados por 150 pessoas, e não fizeram perguntas um ao outro. As questões foram elaboradas por eleitores indecisos, selecionados pelo Ibope para participar do programa. Das 50 questões existentes, foram sorteadas 16.
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