| 12/04/2008 14h36min
Os biocombustíveis, que nasceram com a promessa de ser uma alternativa "verde" ao petróleo, estão no topo da lista de culpados pela crise global gerada pelo aumento dos preços dos alimentos.
Tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto o Banco Mundial (BM), que realizam neste fim de semana sua reunião de primavera (hemisfério norte), evidenciaram durante os últimos dias a ligação entre os dois fenômenos.
O debate sobre as vantagens dos biocombustíveis ganha, assim, um renovado protagonismo, mas o crescente uso de produtos de origem vegetal — como a cana-de-açúcar e a soja (Brasil), o milho (EUA), a mandioca (China) — para gerar combustíveis e seu possível impacto nos preços dos alimentos já é objeto de estudo acadêmico.
Corinne Alexander e Chris Hurt, da Universidade Purdue, em Indiana (EUA), indicam em uma extensa análise do final de 2007 que a demanda de milho e de soja aumentou rapidamente durante os primeiros anos da era dos
biocombustíveis, cuja produção decolou com força
por volta de 2000.
Isso fez com que aumentassem os preços dos dois produtos e se traduziu em um incentivo para destinar mais hectares a esses cultivos, principalmente o milho, o que reduziu o espaço para outros alimentos — que também subiram de preço —, com a manutenção da demanda e a contração da oferta.
As mudanças no preço do trigo se refletiram na farinha, no pão e em outros derivados. A alta da soja foi repassada ao óleo de cozinha e à margarina.
O frango, a carne de gado e os laticínios também subiram, já que esses animais são grandes consumidores de milho e de soja.
Além disso, há fatores como as secas recentes em países produtores, como a Austrália, a alta do petróleo e o conseqüente aumento do preço de adubos e custos de transporte, e as mudanças na alimentação em países como a China, cujo consumo de carne per capita subiu 150% desde 1980.
Essa combinação fez aumentar em 48% os preços dos alimentos
desde o final de 2006, segundo o FMI, e provocou revoltas —
em alguns casos violentas — em países como Egito, Paquistão, Haiti e Burkina Fasso.
Em conseqüência, várias nações impuseram algum tipo de controle sobre os preços e mais de 30 enfrentam riscos de desestabilização, segundo o Banco Mundial, que calcula que a pobreza poderia aumentar entre 3% e 4% nos próximos anos por causa da atual crise.
Com isso, começaram a se multiplicar as críticas aos biocombustíveis, principalmente os produzidos à base de milho nos países ricos.
O Brasil utiliza fundamentalmente cana-de-açúcar, que oferece as maiores vantagens contra a mudança climática, segundo o Banco Mundial.
A situação é diferente nos países ricos, segundo o jornal The New York Times, pois o etanol à base de milho oferece, "no melhor dos casos, só uma pequena redução dos gases de efeito estufa frente à gasolina, e poderia agravar" a situação se houver mais desmatamento devido à extensão de certos cultivos.
Além disso, o New York Times lembra, em editorial
publicado na quinta-feira, que tanto Washington quanto a União Européia oferecem subsídios à produção e desestimulam a importação, através de tarifas.
"O mundo rico está exacerbando os efeitos (da crise) ao apoiar a produção de biocombustíveis", conclui o jornal.
O presidente do Banco Mundial e ex-representante comercial americano, Robert Zoellick, evitou pedir esta semana uma eliminação dos subsídios, mas disse que os países deveriam considerar "se essas práticas fazem sentido".
Em jogo, estão as mais de 800 milhões de pessoas no mundo que vivem com menos de US$ 1 por dia, muitos dos quais poderiam ser vítimas de novas crises de fome se houver a busca de soluções para a atual situação.
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