| 07/08/2003 12h49min
Parentes e amigos de Roberto Marinho, de 98 anos, acompanharam na manhã desta quinta-feira, dia 7, o velório do empresário em sua casa no Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro. Até as 10h, somente os filhos Roberto Irineu e José Roberto, a viúva Lily de Carvalho e os irmãos Ilda e Rogério e parentes velaram o corpo no saguão que dá acesso ao jardim de inverno da residência. Sentada ao lado do caixão, apenas a esposa. Depois, começaram a ser recebidos os amigos.
O presidente das Organizações Globo faleceu na noite dessa quarta-feira, dia 6, após intervenção cirúrgica no Hospital Samaritano, em Botafogo, para a retirada de um coágulo no pulmão. Marinho sofreu um edema pulmonar, provocado por uma trombose, na manhã da quarta, em sua casa no Cosme Velho.
Entre os amigos que compareceram à residência dos Marinho pela manhã, estavam o presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, o representante do Unibanco, Eduardo Lacombe, o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), o empresário Olavo Monteiro de Carvalho e a escritora Nélida Piñon. Para a autora, colega de Marinho na Academia Brasileira de Letras, ele foi um dos grandes brasileiros deste século e do passado.
– Só vamos ter uma dimensão exata da importância deste homem muitos anos depois. Ele confiou neste país e levou o centro do debate para as parcelas mais abandonadas da população graças aos veículos que criou – disse a escritora.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sete ministros acompanham o velório durante a tarde. Além dos ministros da Cultura, Gilberto Gil; da Fazenda, Antonio Palocci; da Educação, Cristovam Buarque; da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken; do Planejamento, Guido Mantega; da Integração Nacional, Ciro Gomes; e das Comunicações, Miro Texeira, comparecem os presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara, João Paulo Cunha. O governador gaúcho Germano Rigotto será representado pelo secretário de Comunicação, Ibsen Pinheiro.
A CET-Rio montará um esquema especial de trânsito para as imediações da residência do jornalista, sobretudo quando o cortejo sair em direção ao Cemitério São João Batista, em Botafogo. O corpo será transportado por um carro da Rede Globo de Televisão. Muitas coroas de flores e mensagens de todo o país estão chegando à casa da família.O arcebispo-émerito do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, celebrará, às 15h30min, a missa de corpo presente no velório do jornalista. O sepultamento será no Cemitério São João Batista, em Botafogo, às 16h.
O presidente das Organizações Globo iniciou sua vida jornalística aos 20 anos, quando seu pai, o jornalista Irineu Marinho, morreu, 21 dias depois da fundação do jornal O Globo, em 1925. A mãe insistiu para que ele assumisse a direção do jornal. Mas Roberto não concordou. Preferiu trabalhar como contínuo, corretor de anúncios, copidesque, articulista, repórter e depois redator-chefe. Para a direção, indicou Euclides de Mattos, um profissional mais experiente. Somente seis anos depois, com 26 anos, Roberto assumiu o cargo, mesmo sem nunca ter cursado a faculdade de Jornalismo.
Nos anos seguintes, se dedicou à consolidação do Globo e à criação da Rádio Globo. Aos 60 de idade, fundou a TV Globo, que veio a ser a maior rede de televisão do país. A última aparição pública de Roberto Marinho foi no dia 29 de julho, quando participou da missa comemorativa aos 78 anos de fundação do seu jornal.
Doutor Roberto, como preferia ser chamado, costumava dizer que ser jornalista era mais importante do que empresário para seus negócios. Marinho era conhecido pelo seu senso de humor. Tinha tiradas rápidas e respostas surpreendentes. Quando em idade já avançada, sempre que lhe perguntavam sobre seu estado de saúde, na despedida ele não perdia a oportunidade de convidar o interlocutor para o seu aniversário de centenário. Falava da sua morte no condicional e criou um bordão que se tornou marca registrada, inciando frases dizendo "se um dia eu vier a faltar".
Na juventude, Marinho foi um desportista eclético, passando de boxe a corrida de carros, mergulho. Praticou equitação mesmo depois dos 40 anos. Já próximo aos 80 anos, aventurou-se em uma competição internacional de equitação. Caiu do cavalo, fraturou 11 costelas, sendo que uma lhe perfurou o pulmão. Não bebia nem freqüentava a noite carioca exageradamente, mas tinha o costume de dar festas em uma cobertura que possuía no bairro da Urca, onde recebia amigos e artistas.
Mesmo milionário, ele nunca perdeu a simplicidade e o gênio. Em casa, atendia o telefone dizendo, simplesmente, "Roberto". Em 1993, foi indicado por Austragésilo de Athayde como candidato à vaga da cadeira número 39 da Academia Brasileira de Letras, aberta pelo falecimento do também jornalista Otto Lara Resende, antigo colaborador de O Globo. Chegou a recusar dizendo que era jornalista, logo não era criador, mas voltou atrás.
A rede de comunicação deverá agora ficar sob a tutela de um dos três filhos do primeiro casamento com Stella Goulart – Roberto Irineu, responsável pela Rede Globo, João Roberto, que cuida do jornal, e José Roberto, o mais novo, responsável pelas rádios da família. Ele estava casado com a socialite Lily de Carvalho havia 13 anos.
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