| 09/03/2005 20h07min
Os Estados Unidos devem assumir a responsabilidade pelo "fogo amigo" que matou um agente secreto italiano no Iraque, e só assim o incidente será esquecido pelos dois aliados, disse o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, nesta quarta, 9.
Ele contradisse os relatórios militares norte-americanos que insinuavam que a culpa pelo incidente da semana passada, ocorrido no momento do resgate de uma jornalista que estava seqüestrada, era da Itália. A Itália também negou que tenha cedido a uma "chantagem política" no Iraque ou que tenha pago resgate pela libertação da jornalista Giuliana Sgrena. A imprensa local especula que os militantes podem ter recebido entre US$ 6 e US$ 8 milhões.
– Só um reconhecimento franco e recíproco da responsabilidade final é a condição para o encerramento deste incidente, que foi tão irracional para nós e que nos causou tanta dor, disse Berlusconi ao Senado.
Soldados norte-americanos dispararam durante 10 a 15 segundos contra o carro em que Sgrena seguia para o aeroporto de Bagdá, na companhia do agente Nicola Calipari. Ele jogou o seu corpo sobre o da jornalista, para protegê-la, e acabou sendo morto. Ela foi atingida por estilhaços e ainda está internada em um hospital de Roma.
Berlusconi disse que a Itália havia feito os contatos necessários com os militares norte-americanos que trabalham no aeroporto para garantir a passagem segura do comboio. Inicialmente, os militares dos EUA disseram que não estavam cientes da missão. Ainda um dos principais aliados dos EUA na Europa, Berlusconi elogiou os EUA por terem aceitado seu pedido para que a Itália participe de uma investigação sobre o incidente de sexta-feira passada.
– Nossa amizade com os Estados Unidos é forte e leal, e temos o dever de exigir deles a verdade absoluta, afirmou Berlusconi, que foi aplaudido de pé por senadores de todos os partidos ao final do seu discurso.
Um militar italiano de alta patente e um diplomata vão participar da investigação, que, segundo os EUA, será concluída dentro de um mês.
Ao contrário do que costuma ocorrer na Itália, Berlusconi foi unanimemente elogiado por todas as tendências políticas por seu comportamento após o incidente, quando chegou inclusive a convocar o embaixador norte-americano para cobrar explicações. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, enviou uma carta ao governo italiano prometendo uma investigação rápida e completa da morte de Calipari, a quem ele se referiu como "um herói no verdadeiro sentido da palavra".
Berlusconi defendeu a atuação de seu governo quando se trata de salvar a vida de reféns no Iraque, lembrando que apenas dois deles foram mortos no ano passado. Os demais, segundo ele, foram libertados sem que o país cedesse às exigências de retirar seus 3 mil soldados do Iraque, enviados para lá apesar da forte oposição da opinião pública italiana.
O chanceler Gianfranco Fini foi além, dizendo que a Itália tampouco negociou resgates.
– Nego que o governo italiano tenha autorizado o pagamento de dinheiro, disse ele numa entrevista pela TV, contradizendo a versão veiculada na imprensa local.
Reconstituindo a morte do agente, Berlusconi insistiu que a versão norte-americana para os fatos no Iraque "não coincide" com o que realmente ocorreu. Os militares dizem que atiraram no carro porque ele se aproximava em alta velocidade de um posto de controle e se recusou a parar. Berlusconi disse que os italianos estavam devagar e não receberam nenhum aviso.
Sgrena, que trabalha em um jornal de esquerda, ampliou a polêmica ao insinuar que foi alvejada de propósito. Para Berlusconi, tratou-se mesmo de um acidente.
As informações são da agência Reuters.
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