| 01/04/2005 19h09min
A presença de seis latino-americanos entre os possíveis sucessores de João Paulo II levanta a possibilidade de um papa que traga novos brios à fé católica na região, onde os cultos evangélicos ganharam força na última década.
Os arcebispos Cláudio Hummes (São Paulo), Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga (Tegucigalpa, Honduras), Jorge Mario Bergoglio (Buenos Aires) e os cardeais Darío Castillón Hoyos, da Colômbia, e Nicolas de Jesús López Rodríguez, da República Dominicana, aparecem na lista dos "papabile".
O Brasil e o México são, nessa ordem, os dois países com mais católicos no mundo, o que torna a América Latina a região com o maior número de fiéis. O Papa fez cinco viagens ao México durante seu pontificado, mais do que a qualquer outro país, exceto à Polônia, sua terra natal.
As especulações sobre quem será o próximo papa começaram a crescer em fevereiro, quando João Paulo II foi hospitalizado. Mas nem todos olham para a América Latina para encontrar o novo pontífice. Analistas afirmam que a possibilidade de que um latino-americano passe a liderar a Igreja Católica dependerá do projeto que o conclave (formado por todos os cardeais com menos de 80 anos) tenha para a Igreja.
– O mais importante neste momento é entender os grandes problemas que a Igreja está vivendo, como ela pode dar a resposta. Então estão antes de tudo os projetos, e em torno deles viriam as pessoas que melhor poderia encarná-los – disse o especialista em temas religiosos Bernardo Barranco, do México.
Observadores do Vaticano dizem que a Igreja poderia optar por alguém que possa enfrentar os problemas na Europa, onde a fé católica vem sofrendo reveses. O eleito, neste caso, seria um italiano ou algum outro europeu. O cardeal alemão Joseph Ratzinger, 66 anos, cuja Congregação para a Doutrina da Fé implantou a linha teológica conservadora de João Paulo II é um dos mais citados.
Entre os latino-americanos, o cardeal Rodríguez Maradiaga tem as melhores possibilidades, segundo observadores, por seu preparo, sua tendência pastoral e seu conhecimento das grandes estruturas da Igreja. Maradiaga foi secretário-geral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), assim como o brasileiro Hummes, e se considera que ele poderia ter apoio no conclave de cardeais que se inclinam por um projeto modernizador da Igreja.
Segundo observadores, Maradiaga poderia encarar temas delicados e difíceis que o Vaticano se negou a abordar diretamente com uma nova perspectiva, como a eutanásia, a sexualidade, a homossexualidade, a clonagem, o celibato e a doação de órgãos, entre outros. Entretanto, eles também reconhecem que uma guinada neste sentido é difícil neste momento.
Dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, é um teólogo conservador, mas conhecido por sua defesa dos pobres e por suas críticas às violações dos direitos humanos. Está de acordo com a idéia que prevalece no Vaticano de que a preocupação com os pobres deve ser ditada pelo Evangelho, e não por ideologias políticas.
O candidato argentino, Bergoglio, é conhecido por sua humildade: vive em um apartamento, e não na luxuosa residência oficial, e se desloca por Roma de ônibus. Tem um enfoque tradicional e espiritual como cardeal. Mas pesa contra ele o fato de que é da ordem dos Jesuítas, da qual nunca veio nenhum papa, porque seus membros devem evitar as honras da Igreja e servir ao Papa.
A força da candidatura do colombiano Castrillón Hoyos é sua ampla experiência no seu país e no Vaticano. Na Celam, conseguiu nas décadas de 1980 e 90 diminuir a influência da Teologia da Libertação.
López Rodríguez, da República Dominicana, é um doutrinário conservador e um forte opositor da Teologia da Libertação. Ele também esteve ativo nos meios de comunicação, comandando programas de televisão evangelistas em espanhol para a Colômbia e os Estados Unidos. Contra ele, pesa a pouca experiência com a burocracia do Vaticano.
As informações são da agência Reuters.
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