| 02/04/2005 12h45min
O lento declínio do Papa João Paulo II, uma saga aparentemente sem fim em uma era de notícias em tempo real, parece menos dramático quando visto através do prisma da Igreja Católica.
Um momento crítico como este, em que o papa de 84 anos se aproxima da morte e muitos fiéis no mundo já se preocupam com seu sucessor, seria motivo de crise para um governo ou empresa sob alvo da imprensa 24 horas por dia.
Mas a Igreja, uma das mais antigas instituições do mundo, já passou pela nomeação e morte de 263 papas antes. Muitos envelheceram com problemas de saúde, tornando a burocracia mais lenta e provocando questionamentos sobre reformas.
– As pessoas dizem que a Igreja não estava presente antes, mas estava. O mundo só não sabia que estava aqui antes. A imprensa mudou tudo isto – afirma John Haldane, especialista papal da Universidade de Saint Andrews, na Escócia.
O pontificado de 26 anos de João Paulo II, o terceiro mais longo da história da Igreja, também fez com que o homem se tornasse também tão importante quanto o cargo, disse o historiador Gerald Fogarty, da Universidade da Virgínia, acrescentando que "muitos jovens católicos acham que este papa é a Igreja".
O Vaticano era envolto em tal confidencialidade até há pouco tempo que as notícias da morte de um papa costumavam ser o primeiro sinal de problema. Um antigo ditado romano diz: "Um papa não está doente enquanto não estiver morto". Isto mudou bastante. Durante a hospitalização do papa o Vaticano chegou a emitir dois boletins por semana no mês passado e agora os informativos sobre a saúde de João Paulo II são dados duas vezes por dia.
O papa João XXIII recebeu o diagnóstico de câncer do estômago em setembro de 1962, um mês antes da abertura do Segundo Concílio do Vaticano, sem dar nenhum sinal de que não viveria para ver o final. Em novembro ele já estava doente demais para receber visitas importantes, mas o Vaticano manteve o silêncio, explicando que as expressões de dor do pontífice eram por motivo de "muito cansaço". A notícia do câncer só foi divulgada poucos dias antes de sua morte, em junho de 1963.
Seu sucessor, Paulo VI, teve problemas de saúde a partir do início dos anos 1970 e nos últimos anos de pontificado seus assessores ficaram responsáveis por grande parte do trabalho na Igreja. Quando teve um ataque cardíaco, em agosto de 1978, o Vaticano demorou horas antes de anunciar a morte do papa.
Agora, com João Paulo II, a atitude do Vaticano é tão diferente que a assessoria de imprensa ficou aberta a noite inteira de sábado para fornecer notícias para os jornalistas.
Com informações da agência Reuters e do Globo Online.
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