| 11/03/2008 21h06min
O embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, descartou a possibilidade de um pedido de desculpas do governo espanhol pela repatriação de brasileiros. Segundo ele, tal pedido só faria sentido em caso de alguma arbitrariedade do serviço de imigração — o que o embaixador assegurou não ter ocorrido.
— Se o procedimento é regrado, nós podemos lamentar, eu manifesto que lamentei alguns casos. Isso não quer dizer que tenham sido feitos de forma arbitrária, muito menos injusta. Só cabe pedido de desculpas quando se faz uma coisa indevida — afirmou, hoje, ao final de reunião fechada com integrantes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, no gabinete do presidente da Comissão, Heráclito Fortes (DEM-PI).
A pedido de Fortes, o embaixador foi prestar esclarecimentos e entregou relatório sobre cada um dos brasileiros recentemente repatriados pelo governo espanhol. A Comissão ainda pretende ouvir a estudante de pós-graduação Patrícia Magalhães, da
Universidade de São Paulo
(USP).
Em fevereiro, ela participaria de um congresso de física em Lisboa, mas foi detida no aeroporto em Madri, porque, segundo autoridades espanholas, não cumpria os requisitos mínimos para entrada no país.
Indagado sobre os critérios de entrada na Espanha, Peidró admitiu que o controle de imigração é aleatório, mas frisou que as regras são as mesmas para todos os países que integram o chamado Espaço Schengen — que inclui 22 países da União Européia mais Islândia, Noruega e Suíça.
— Os controles são aleatórios, às vezes têm um pouco mais de intensidade na aplicação, mas as normas não mudam. De cada cem viajantes, um é retido. Esta é a estatística fria e lamentável — afirmou, ao assegurar que o percentual é semelhante em todos os países do Espaço Schengen. — A norma tem que ser aplicada no país de entrada e muitos latino-americanos entram na Europa pela Espanha. Então, isso nos dá um destaque que deveria ser comparado com o fluxo global — ponderou
o embaixador.
Neste ano,
2.231 brasileiros foram repatriados pela União Européia — 797 deles, pela Espanha, aonde chegam diariamente cerca de 800 brasileiros.
— Estamos querendo melhorar os procedimentos e, sobretudo, que este assunto deixe de ser notícia, afirmou. De acordo com Peidró, a Espanha é o segundo destino turístico dos brasileiros e o segundo país mais procurado para pós-graduação pelos estudantes do país. E é o segundo maior investidor no Brasil.
— Minha função é restabelecer um fluxo de relações que tem sido fantástico em todos os âmbitos — ressaltou.
O senador Heráclito Fortes também adotou tom conciliador, ao frisar que entre Brasil e Espanha não há crise, mas apenas mal-estar, e rechaçou qualquer retaliação por parte do governo brasileiro.
— Retaliação é inadmissível num país que tem a tradição de relação que nós temos com a Espanha. Podemos falar em reciprocidade, mas é uma questão bem diferente. E o que esperamos é que a gente não
precise chegar a isso — afirmou.
O assunto
deverá ser retomado amanhã, em reunião extraordinária da Comissão com a presença do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Embaixador Ricardo Peidró garantiu que não ocorreu arbitrariedade do serviço de imigração
Foto:
Marcello Casal, JR/ABr
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