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Dezenas de milhares de manifestantes se reuniram nesta quinta, dia 16, no centro de La Paz para exigir a renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Foi a maior manifestação urbana em quatro semanas de protestos sociais na Bolívia.
"Goni assassino" e "Goni no paredão", gritavam os manifestantes que chegavam à praça San Francisco, transformada em epicentro do descontentamento popular contra o presidente, conhecido pelo apelido Goni. Uma grande passeata saiu da cidade vizinha de El Alto, cenário de graves distúrbios, enfrentamentos e repressão militar e policial, incidentes que resultaram em pelo menos 50 das 74 mortes neste mês de confrontos políticos.
A multidão ocupou os 15 quilômetros que separam El Alto de La Paz até se fundir com outra grande passeata de trabalhadores, camponeses, "cocaleros" (plantadores de coca), estudantes e outros grupos sociais.
– Que caia Goni, que vá embora – foi o grito único dos manifestantes que, organizados pelas associações de bairros, desceram os 400 metros de altitude que separam El Alto de La Paz, que fica em um vale a 4.080 metros sobre o nível do mar.
Os rostos dos manifestantes denunciavam raiva e indignação. A maioria deles é formada por indígenas aimaras expulsos do empobrecido altiplano andino para El Alto, a terceira maior cidade do país (800 mil habitantes), onde a renda média é de US$ 450 anuais.
O que começou como um protesto contra a exportação de gás por um porto chileno se transformou nos últimos dias em uma revolta popular contra Sánchez de Lozada, de 73 anos. O presidente, um rico empresário da mineração, educado nos Estados Unidos, que já governou a Bolívia entre 1993 e 1997, é acusado de não ter feito nada para aliviar a pobreza ou a miséria que atingem 6 em cada 10 bolivianos, a maior parte concentrada nas zonas rurais.
– Essa gente não é subversiva, é o povo – disse um comerciante mestiço durante a marcha.
Sánchez de Lozada refere-se aos manifestantes como "anarquistas", "narcos" e "sindicalistas". Nesta quinta, ele repetiu, em cadeia de rádio, que pretende cumprir até o final, em 2007, o mandato para o qual foi eleito em 2002. O presidente da Central Operária Boliviana (COB), Jaime Solares, arrancou gritos da multidão com um inflamado discurso no qual repetiu os ataques ao presidente.
– Se Sánchez de Lozada não se vai, será uma guerra de longo fôlego – afirmou.
O polêmico sindicalista propôs às mulheres que façam greve de fome em todas as igrejas do país e aos homens que comecem a cavar trincheiras nos bairros e estradas.
– Essa será a única maneira de bloquear o avanço dos militares – declarou.
Ele também pediu aos presentes que, após as manifestações, se deslocassem para a vigiada praça Murillo, a principal da capital, onde ficam a sede do governo, o Parlamento, a Catedral Metropolitana e a chancelaria. As marchas e manifestações transcorrem sem incidentes, com forças do Exército colocadas em lugares discretos, porém estratégicos, mas sem uma mobilização especial em torno da praça Murillo.
Dez piquetes com 72 manifestantes em greve de fome, entre eles a ex-defensora do povo Ana María Romero e a vice-presidente da Assembléia de Direitos Humanos, Sacha Llorenti, se instalaram em várias igrejas, um convento e em sedes de entidades humanitárias. Mais oito piquetes foram formados em outras cidades. Ao todo, há 110 manifestantes em greve de fome.
As informações são da agência Reuters.
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