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Al-Qaeda é suspeita dos ataques que mataram 170 no Iraque

É o dia mais sangrento no Iraque desde a queda de Saddam Hussein

Uma onda de ataques suicidas e disparos de morteiros contra multidões de xiitas matou pelo menos 170 pessoas nesta terça, dia 2, em Bagdá e Kerbala. O Conselho de Governo do país atribuiu os atentados a um jordaniano que, segundo os Estados Unidos, trabalha para a Al-Qaeda e tenta alimentar o caos no Iraque. É o dia mais sangrento no Iraque desde a queda de Saddam Hussein.

Líderes da maioria xiita, que representa 60% da população, dizem que o objetivo dos ataques é desencadear uma guerra civil. Os militares norte-americanos disseram que três militantes suicidas mataram 58 pessoas nos arredores da mesquita Kadhimiya, em Bagdá. Eles disseram ainda que em Kerbala houve uma combinação de atentado suicida, morteiros e bombas. Ahmed Al-Safi, importante clérigo xiita de Kerbala, disse que 112 fiéis morreram ali. Mais de 400 pessoas ficaram feridas nas duas cidades.

Os ataques quase simultâneos tinham como alvo um ritual anual, proibido no regime sunita de Saddam, em que os xiitas se flagelam e produzem cortes em suas cabeças para lembrar o sacrifício de um imã morto em combate há 1.324 anos.

Em Kerbala, onde pelo menos 2 milhões de pessoas se reuniram para a cerimônia, equipes de resgate percorreram as ruas empilhando cadáveres em carroças e buscando desesperadamente médicos e ambulâncias. Já ensanguentados por causa do ritual, os xiitas fizeram fila para doar sangue aos feridos. Os corpos de muitas das vítimas ficaram desfigurados.

Em Bagdá, Abdel Aziz Al-Hakim, membro do Conselho de Governo e do Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Irã - um partido xiita - disse que a milícia ligada ao seu grupo conseguiu evitar um outro atentado na cidade sagrada de Najaf. A milícia também teria confiscado granadas e morteiros em carros em Kerbala, de acordo com Al-Hakim.

Vários membros do Conselho de Governo atribuíram as explosões a Abu Musab Zarqawi, um jordaniano que, segundo Washington, está por trás de uma série de violentos ataques no Iraque. As tropas norte-americanas instituíram uma recompensa de US$ 10 milhões por sua captura. No mês passado, os EUA teriam interceptado um disco de computador com uma carta em que Zarqawi supostamente propunha a realização de atentados no Iraque para inflamar as tensões religiosas no país.

– Este foi um ato de terrorismo claro e tragicamente bem organizado – disse o general Mark Kimmitt, vice-chefe de operações do Exército norte-americano no Iraque. Segundo ele, um homem com explosivos atados ao corpo foi preso perto da mesquita de Bagdá – o principal templo da cidade – e várias pessoas foram detidas em Kerbala. Kimmitt disse que esses suspeitos estão sendo interrogados.

Em outros ataques em Bagdá, guerrilheiros lançaram uma bomba contra um veículo militar dos EUA, matando um soldando e deixando outro gravemente ferido. Com isso, subiu para 379 o número de militares mortos em combate desde o começo da ocupação, há quase um ano.

Sem saber a quem atribuir a violência, sobreviventes do ataque de Bagdá apedrejaram soldados norte-americanos que chegaram ao local. Em Kerbala, os xiitas se voltaram contra peregrinos iranianos – apesar de o Irã dizer que 22 cidadãos seus estão entre os mortos.

O aiatolá Ali Al Sistani, principal clérigo xiita do Iraque, divulgou uma nota em Najaf conclamando à unidade nacional e criticando as forças norte-americanas por não garantirem a segurança nas fronteiras contra a entrada de militantes violentos. Os xiitas do Conselho de Governo pediram calma e unidade entre todos os grupos étnicos e religiosos do país.

– A guerra civil e a tensão sectária que Zarqawi quer infligir ao povo do Iraque não vão ter sucesso. Zarqawi fracassou, sua gangue e seus planos malignos fracassaram – disse Mowaffar Al Rubaie, membro do Conselho.

Em uma nota, o governador norte-americano do Iraque, Paul Bremer, disse que "os terroristas querem a violência sectária porque acreditam que essa é a única forma pela qual podem impedir que o Iraque marche para a democracia que os terroristas temem''.

Na segunda, dia 1º, grupos religiosos e étnicos que participam do Conselho de Governo superaram suas diferenças sobre o papel institucional do Islã, os direitos das mulheres e as reivindicações curdas e aceitaram uma Constituição provisória para o país. O acordo deveria ser assinado na quarta, mas autoridades dizem que um adiamento é quase certo por causa do luto de três dias declarado em memória das vítimas desta terça.

Com informações da agência Reuters.

 
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