| 11/03/2004 14h50min
Se os atentados de Madri desta quinta, dia 11, forem realmente obra do ETA, eles indicam uma reação e uma mudança drástica de um grupo guerrilheiro que muitos espanhóis consideravam quase derrotado. As bombas que mataram mais de 180 pessoas em trens de Madri não tiveram as marcas registradas dos ataques executados pelas guerrilhas separatistas bascas – com exceção do fato de explodirem três dias antes das eleições –, mas a Espanha está convencida de que elas são as responsáveis.
Desde que iniciou sua luta por um Estado basco independente no norte da Espanha e no sudoeste da França, em 1968, o ETA matou quase 850 pessoas, mas nenhum ataque causou carnificina semelhante à desta quinta, já que o grupo normalmente emitia alertas sobre ataques iminentes, a fim de poupar a vida de civis. No pior atentado a bomba feito pelo grupo, em 1987, o ETA pediu desculpas por ter matado 21 pessoas que faziam compras num supermercado de Barcelona.
A Espanha vem prendendo mais e mais suspeitos de integrar o ETA nos anos recentes, e o número de vítimas está diminuindo. Em 2000, foram 23 mortos. No ano passado, três. Para muitos madrilenhos, o ETA estava no fim.
Então vieram os ataques de quinta, com civis como alvo, sem nenhum tipo de alerta prévio. Um ato de desespero, talvez, para provar que ainda são uma força a ser considerada?
– É claramente uma tentativa de marcar posição logo antes das eleições. Eles tinham que fazer alguma coisa para mostrar sua vitalidade, sua existência – disse Jean Chalvidant, que é especialista em ETA e pertence ao Instituto de Criminologia da França.
Um outro analista sugeriu que a magnitude dos ataques da Al-Qaeda a Nova York e Washington em 2001 inflacionou o terror global.
– Desde 11 de setembro, houve um salto qualitativo. Ataques pequenos não são mais suficientes. Eles (o ETA) têm de pensar mais alto para conseguir influência – disse Manuel Coma, especialista em segurança do Instituto Royal Elcano, da Espanha.
Especialistas afirmaram que a ação das polícias espanhola e francesa, que prenderam 650 aliados ou suspeitos de pertencer ao ETA desde 2000, reduziu a entidade a um pequeno grupo sob permanente pressão.
– O ETA normalmente faz alertas à polícia e ao público sobre onde colocou as bombas. Esse tipo de alerta aparentemente não foi dado hoje – disse Rolf Tophoven, chefe do Instituto para Pesquisa do Terrorismo e Política de Segurança, da Alemanha, à N-TV.
– Isso sugere que o ETA alterou seu modus operandi nas ações contra o governo espanhol, que está tomando um novo rumo. A dimensão do ataque de hoje pode ser um sinal da nova tática do ETA, matar grande número de pessoas e deixar centenas de feridos – declarou.
A polícia disse em dezembro que havia interceptado um plano semelhante, do ETA, de detonar bombas em dois trens que partiriam de Madri.
A Espanha vai precisar repensar o modo de lidar com o ETA e com o separatismo basco, se os ataques forem mesmo uma indicação do fracasso de uma política aparentemente bem-sucedida. O governo de centro-direita do Partido Popular, que chega às eleições de domingo como favorito para um terceiro mandato, encara a destruição do ETA como uma de suas maiores prioridades. Parecia estar obtendo sucesso, graças às prisões, à melhora nos serviços de inteligência e à proibição do suposto braço político do ETA, o partido Batasuna, em 2002.
Richard Evans, editor do Centro de Terrorismo e Insurgência Jane, disse que o ETA tinha capacidade técnica para executar os ataques de quinta, mas que uma ação muçulmana não poderia ser descartada, já que a Espanha foi uma importante aliada dos Estados Unidos na guerra contra o Iraque.
– Se foi o ETA ... é uma imensa escalada – disse ele em Londres.
Alguns bascos sugeriram que declarações recentes do ETA sobre um cessar-fogo restrito à região da Catalunha eram um sinal de fraqueza, e que o grupo estava tentando uma solução negociada. Mas o líder do hoje proibido Batasuna, que obteve 10% dos votos nas eleições parlamentares bascas em 2001, diz que o ETA não vai desaparecer, por mais que o governo espanhol tente.
– A história nos ensina que, se um conflito não é solucionado, pode haver períodos sem resistência armada, mas no fim ela sempre volta – disse Arnaldo Otegi depois de uma manifestação recente.
As informações são da agência Reuters.
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