| 17/06/2004 21h15min
Dois ataques com bombas mataram 41 membros das forças iraquianas de segurança, o que amplia a sangrenta tentativa de sabotagem contra a transferência de poder marcada para 30 de junho. Um suicida provocou a explosão de um veículo 4x4 em uma base de recrutamento do Exército em Bagdá, matando 35 pessoas e ferindo 138. Foi o atentado mais violento no país desde fevereiro.
Horas depois, outro carro-bomba matou seis guardas civis e feriu quatro perto de Balad, cidade ao norte da capital, de acordo com relato dos militares norte-americanos.
Os insurgentes – entre os quais supostamente há seguidores de Saddam Hussein, nacionalistas e militantes islâmicos estrangeiros – já atacaram autoridades, forças de segurança e instalações petrolíferas nesta reta final para o encerramento oficial da ocupação norte-americana, em 30 de junho, quando assume um governo interino iraquiano.
As exportações de petróleo, vitais para a economia iraquiana, continuavam paralisadas nesta quinta, dia 17, depois das sabotagens contra oleodutos no norte e no sul. Mas uma fonte do setor disse que parte da exportação pode ser retomada na sexta-feira, após reparos em um terminal do golfo Pérsico.
Transeuntes e voluntários do Exército foram os mais atingidos pela explosão em Bagdá, a terceira na cidade nesta semana.
– De repente houve uma forte explosão. Dez ou quinze outras (pessoas) ficaram em cima de mim na rua. Eu não podia recuar, de jeito nenhum – disse o recruta Ibrahim Ismail em seu leito de hospital.
– Foi um ataque covarde. É uma demonstração novamente de que estes ataques são contra a estabilidade do Iraque e do povo iraquiano – disse o primeiro-ministro Iyad Allawi no local.
O novo ministro da Defesa prometeu repressão aos culpados.
– Vamos cortar suas mãos e decapitá-los – disse Hazim Al Shaalan, acrescentando que as buscas serão feitas por iraquianos, apenas com apoio logístico dos EUA.
Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, insistiu que o ex-ditador Saddam Hussein mantinha vínculos com a Al-Qaeda, ao contrário do que apontou uma comissão independente que colocou em xeque várias das justificativas apresentadas pela Casa Branca para fazer a guerra.
– A razão pela qual continuo insistindo em que havia uma relação entre o Iraque, Saddam e a Al-Qaeda é porque havia uma relação entre o Iraque e a Al-Qaeda. Este governo nunca disse que os atentados do 11 de Setembro foram orquestrados entre Saddam e a Al-Qaeda. Nós dissemos que houve numerosos contatos entre Saddam Hussein e a Al-Qaeda. – afirmou.
Uma nova pesquisa – a primeira feita pelo governo norte-americano de ocupação desde que surgiu o escândalo dos abusos em prisões – mostrou que 55% dos iraquianos se sentiriam mais seguros se as tropas dos EUA deixassem seu país agora.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse na quinta, dia 17, que a atual violência no Iraque impede a volta de funcionários estrangeiros da entidade ao Iraque, onde poderiam ajudar no processo político e na reconstrução.
Uma recente resolução do Conselho de Segurança que reserva um "papel de liderança'' para a ONU no Iraque prevê que os funcionários só voltarão para lá quando "as circunstâncias permitirem''.
– Até hoje, elas não permitem – disse Annan.
Os militares norte-americanos disseram que um terceiro soldado morreu por causa de um foguete lançado na quarta, dia 16, contra uma base ao norte de Bagdá. Um soldado húngaro morreu e um civil da mesma nacionalidade ficou ferido na quinta quando o comboio em que viajavam foi atingido.
Desde o começo da invasão, no ano passado, pelo menos 612 militares norte-americanos foram mortos em ação no Iraque.
Em Washington, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, admitiu ter ordenado que um iraquiano acusado de terrorismo passasse mais de sete meses preso sem que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha tenha sido notificado. Ele disse, porém, que o preso foi "tratado humanamente''.
Falando no Pentágono, Rumsfeld disse:
– Recebi o pedido do diretor da CIA (George Tenet) para manter sob custódia um cidadão iraquiano que supostamente seria um membro de alto escalão da Ansar Al-Islam – grupo qualificado como terrorista pelos EUA.
– E assim fizemos. Recebemos o pedido de não registrar imediatamente o indivíduo (junto à Cruz Vermelha). E fizemos isso. – afirmou Rumsfeld.
Ele não explicou a razão desses atos, mas acrescentou que estão no processo de registrar o preso, que não foi identificado. Em março, o general Antonio Taguba, que investiga os abusos em Abu Ghraib, criticou a prática de se manter presos fantasmas.
Também nesta quinta, supostos rebeldes iraquianos libertaram um caminhoneiro turco e um egípcio que haviam sido sequestrados neste mês, segundo a agência turca de notícias Anatolian.
Com informações da agência Reuters.
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.