| 02/04/2005 02h47min
Em conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi acertado um conjunto de medidas para elucidação do crime, punição exemplar dos responsáveis e apoio aos familiares das vítimas das chacinas que deixaram 30 mortos na Baixada Fluminense (RJ).
Os crimes ocorreram nesta quinta, 31 de março, na maior chacina da história do Rio de Janeiro.
Bastos enviou a Secretária Nacional de Justiça, Cláudia Chagas, para representá-lo no enterro das vítimas e determinou, desde cedo, que a Polícia Federal desse todo o apoio necessário às investigações. Além da Missão Suporte, que já atua no auxílio às forças estaduais no combate ao crime organizado, deverá ser acionada a inteligência da PF.
O diretor da PF, delegado Paulo Lacerda, informou que a instituição está colhendo informações sobre a chacina para, em conjunto com as autoridades de segurança do Rio, definir a ajuda necessária.
A indignação com o massacre uniu defensores dos direitos humanos, parentes de vítimas de outras chacinas, estudiosos da violência e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota divulgada na noite desta sexta, pelo Palácio do Planalto, o presidente diz que recebeu com revolta à notícia da chacina. Lula diz ainda que o governo federal "não poupará esforços para, em conjunto com as autoridades estaduais e municipais, encontrar e punir os responsáveis por esse crime bárbaro e covarde".
O pesquisador Marcelo Freixo, da ONG Justiça Global, informou que enviará relatório sobre a chacina ao relator de execuções sumárias da ONU, Philip Alston, e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA. O procurador-geral de Justiça, Marfan Viera, disse que o Ministério Público irá acompanhar a investigação da polícia. O presidente da OAB-RJ, Octávio Gomes, determinou que a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da entidade acompanhe o trabalho das autoridades e dê assistência aos parentes das vítimas. A coordenadora do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, disse que a impunidade, principalmente aos torturadores, agrava ainda mais o quadro de violência.
O secretário de Segurança do Rio, Marcelo Itagiba, detalhou os indícios que levam a polícia a suspeitar que a matança de 30 pessoas na Baixada Fluminense foi praticada por policiais militares ligados a grupos de extermínio. Um dos mais evidentes foi a utilização de pistolas calibres ponto 40 e 380, de uso exclusivo das polícias Civil e Militar. A pistola PT 380 é usada pelo policial de folga. Dezoito balas dos dois calibres foram recolhidas nos corpos das vítimas. Além disso, Itagiba apontou o fato de os assassinos terem tentado recolher todas as cápsulas deflagradas. Outro fato destacado pelo secretário foi o de que não há marcas nas paredes próximas aos lugares onde as vítimas foram atacadas: os tiros foram todos certeiros.
As mortes ocorreram em dois municípios da Baixada Fluminense. Os matadores não escolheram os alvos. Entre as vítimas, há crianças, adolescentes, mulheres e homens, assassinadas por tiros em Nova Iguaçu e Queimados. Apenas dois dos mortos tinham ficha criminal. Duas outras pessoas baleadas permaneciam internadas até a noite desta sexta.
Segundo a Secretaria de Segurança, foi uma provável retaliação de policiais militares, intimidados por investigação de envolvimento de agentes da corporação em crimes na Baixada Fluminense.
As investigações foram iniciadas com duas versões para a linha de ação dos assassinos. Na primeira, seriam quatro homens, utilizando um Gol de cor prata. Percorreram ruas das duas cidades, atirando nas pessoas que passavam sem ter um alvo definido. Na segunda versão, os criminosos teriam usado dois carros e uma motocicleta.
O local que registrou maior número de mortes foi o bar Cacique, no bairro da Posse, em Nova Iguaçu, no qual nove pessoas foram assassinadas. Outras duas pessoas foram mortas durante a fuga dos agressores, nas proximidades da rodovia Presidente Dutra. A polícia procura outras pessoas que teriam sido atingidas pelos tiros.
A PM informou já ter recebido mais de 90 denúncias sobre suspeitos das chacinas. Entre os suspeitos, estão dois policiais da Baixada Fluminense onde ocorreram os massacres.
Com informações de Zero Hora.
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