| 11/05/2005 21h00min
Países sul-americanos e árabes deram, nesta quarta, dia 12, apoio aos palestinos na sua luta por independência e condenaram o terrorismo. A declaração foi feita no final da Cúpula América do Sul-Países Árabes, realizada em Brasília com representantes de 22 países árabes e 12 sul-americanos.
O documento – que não tem grandes efeitos além de mostrar a união simbólica entre os dois blocos de países do mundo em desenvolvimento – deu apoio ao novo governo iraquiano, que luta para reconstruir o país e derrotar a atual insurgência.
Os dirigentes também disseram que o Oriente Médio só conseguiria estabelecer a paz e que a América Latina só conseguiria diminuir os altos índices de pobreza se os países em desenvolvimento resistissem à supremacia e à hegemonia dos países ricos e aprofundassem os laços comerciais entre si.
– Essa é uma declaração que aponta para o caminho que precisamos seguir se as relações entre a América do Sul e os países árabes mudarem para sempre – disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderou o encontro de 34 países onde vivem 600 milhões de pessoas.
A cúpula foi concebida por Lula como parte de seus esforços para fazer do Brasil – a quarta maior democracia do mundo – uma potência diplomática e econômica e, ele mesmo, um defensor do mundo em desenvolvimento e um contrapeso ao domínio norte-americano sobre o cenário internacional.
O objetivo inicial da cúpula era discutir a intensificação das trocas de produtos e investimentos entre as regiões, meta deixada a um segundo plano devido à insistência dos países árabes em abordar as questões políticas relativas ao Oriente Médio, com críticas a Israel.
A postura do bloco árabe pareceu frustrar alguns líderes da América Latina.
– A idéia desse encontro era explorar as possibilidades para o comércio e o investimento, e não lidar com questões políticas – disse o presidente do Peru, Alejandro Toledo. – A importância desse encontro não é o que foi dito, mas o fato de que conseguimos finalmente nos reunir – completou.
Os líderes dos países árabes afirmaram que a cooperação política era necessária antes da assinatura de quaisquer acordos comerciais.
– Como se pode ter comércio e desenvolvimento quando há países vivendo sob a ocupação? – perguntou o ministro das Relações Exteriores do Kuweit, Mohammed Sabah Al Salem Al Sabah.
Um dos pontos centrais da declaração final da cúpula foi a exigência de criação de um Estado palestino que coexistiria em paz com Israel. O governo israelense, diz o documento, deveria retirar-se dos territórios ocupados na guerra de 1967 e deveria desmantelar seus assentamentos, incluindo os construídos em Jerusalém Oriental.
O destino das colônias judaicas foi um dos pontos acertados para serem discutidos no futuro entre israelenses e palestinos, segundo prevê um plano de paz firmado meses atrás e que contou com apoio da comunidade internacional.
A declaração defende o direito de Estados e populações de resistirem à ocupação estrangeira – um ponto que deixou os EUA e Israel preocupados já que poderia ser interpretado como uma aprovação tácita a grupos como o Hizbollah e o Hamas, inimigos do Estado judaico.
O documento condena o terrorismo, mas pede que uma conferência a ser comandada pela Organização das Nações Unidas (ONU) defina mais precisamente o que vem a ser o terrorismo. Israel, por seu turno, reagiu com críticas à declaração.
– Isso irá encorajar os extremistas, os grupos terroristas. Dará a eles luz verde para resistir – afirmou o embaixador do Estado judaico no Brasil, Tzipora Rimon.
Segundo a opinião de um analista, a cúpula teria poucos efeitos práticos.
– Não ficou claro para mim que os países sul-americanos terão qualquer participação no conflito entre israelenses e palestinos. Então, não vejo muito sentido em se falar muito a esse respeito – afirmou à Reuters David Mack, do Instituto do Oriente Médio (EUA).
A declaração final deu apoio ao novo governo iraquiano, pedindo por mais ajuda para as autoridades do país árabe, que enfrentam atualmente "operações terroristas". O presidente iraquiano, Jalal Talabani, que realiza atualmente sua primeira viagem internacional como chefe de Estado, foi uma das maiores atrações da cúpula, o que reconfortou o governo norte-americano em certa medida.
Os EUA distanciaram-se da América Latina nos últimos anos e não puderam participar da cúpula na qualidade de observadores.
No encontro, Lula teve oportunidade de apresentar mais uma vez dois de seus temas favoritos --a necessidade de que haja uma nova ordem econômica no mundo e a necessidade de que os países pobres cooperem mais.
No final, a declaração pediu que o próximo presidente da Organização Mundial do Comércio (OMC) venha de um país em desenvolvimento. O documento deu apoio eleição do uruguaio Carlos Perez del Castillo, que enfrenta o francês Pascal Lamy na disputa pela liderança da OMC.
As informações são da agência Reuters.
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