| 13/05/2004 21h17min
A cúpula do Pentágono admitiu nesta quinta, dia 13, que alguns dos métodos de interrogatórios usados contra prisioneiros no Iraque podem ter violado a Convenção de Genebra, que regulamenta o tratamento a presos de guerra.
A admissão veio no momento em que o Senado investiga os abusos sexuais e psicológicos cometidos contra detentos da penitenciária de Abu Ghraib, perto de Bagdá, que provocaram indignação mundial e prejudicam os esforços norte-americanos para estabilizar o Iraque.
Em audiência na Comissão de Serviços Armados do Senado, o subsecretário de Defesa Paul Wolfowitz e o general Peter Pace, segundo homem na hierarquia militar, tiveram de explicar os métodos usados contra os prisioneiros, que tiveram aprovação do general Ricardo Sanchez, comandante das tropas dos EUA no Iraque.
Esses métodos consistem em deixar os prisioneiros sem dormir, em posições desconfortáveis por até 45 minutos, sob a ameaça de cães, com manipulações alimentares e em isolamento por mais de 30 dias.
O senador Jack Reed perguntou a Pace se um outro país não estaria violando a Convenção de Genebra se mantivesse um marine dos EUA nu e encapuzado, com os braços erguidos por 45 minutos
– Eu descreveria isso como uma violação, senhor – respondeu Pace, que é o vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
– Conforme li nas orientações do general Sanchez, é precisamente esse comportamento que poderia ser empregado no Iraque – reagiu Reed, do Partido Democrata.
O senador fez depois a mesma pergunta a Wolfowitz, que tentou desconversar, mas acabou respondendo que "o que o senhor me descreveu me soa como uma violação à Convenção de Genebra''.
As técnicas de interrogatório usadas pelos EUA estão sob discussão por causa das fotos que mostraram presos sendo empilhados, forçados a simular atos sexuais e puxados por coleiras, diante de risonhos soldados norte-americanos. Entidades de direitos humanos dizem que esses atos caracterizam uma clara violação da Convenção de Genebra e de um outro tratado internacional contra a tortura.
Pressionado por Reed a dizer quem é o responsável pelas diretrizes dos interrogatórios, Pace disse não saber.
– Pessoalmente não estou ciente de quaisquer discussões, além do teatro de operações, a respeito das técnicas de interrogatórios no Iraque – afirmou.
Wolfowitz afirmou também desconhecer discussões sobre o assunto ou as ordens de Sanchez.
O secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, que também nesta quinta fez uma visita-surpresa a Abu Ghraib, disse na quarta, dia 12, a outra comissão do Senado, que os advogado do Pentágono aprovaram os métodos de interrogatórios usados pelos militares.
Um ex-funcionário do serviço de inteligência dos EUA disse, sob anonimato, que depois do 11 de setembro ganhou corpo no governo o uso da "pressão extrema" como meio de interrogar supostos terroristas. Essa fonte disse que isso aconteceu apesar de os especialistas do setor admitirem que esses métodos não são eficazes para a obtenção de informações confiáveis. Sob coação, os presos tendem a dizer o que seus interrogadores querem ouvir.
– Se eles [os presos] achassem que você quer escutar que os marcianos estavam por trás de um ataque, os suspeitos tentariam vender isso a você – afirmou a fonte.
Dois cidadãos britânicos que foram mantidos por mais de dois anos na base naval de Guantánamo, encravada em Cuba, disseram nesta quinta que foram submetidos a abusos semelhantes aos vistos em Abu Ghraib.
Em carta aberta ao presidente George W. Bush e aos parlamentares da Comissão de Serviços Armados, Shafiq Rasul e Asif Iqbal disseram ter sido "deliberadamente humilhados e degradados pelo uso de métodos que, segundo lemos agora, as autoridades dos EUA negam.''
Eles relataram que eram forçados a ficarem agachados, com as mãos algemadas entre as pernas, e atados ao chão por horas a fio, enquanto eram interrogados. Cães eram usados para assustar os prisioneiros, que eram mantidos nus.
– Mulheres eram levadas à sala para provocar inapropriadamente e de fato molestá-los – escreveram os dois muçulmanos britânicos.
Com informações da agência Reuters.
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