| 04/04/2005 22h47min
O bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga, é direto quando explica sua visão de como as passagens bíblicas se relacionam com a busca de um mundo mais justo.
– Não teremos o reino dos céus se não assumirmos as lutas pela justiça e pela solidariedade – disse Casaldáliga, colaborador do MST e defensor ardoroso da causa dos negros e dos indígenas no Brasil.
Espanhol de 77 anos, há 35 no Brasil, devoto de São Francisco de Assis e fã de Che Guevara – a quem admira por ter sido “um homem que morreu por uma causa”, Casaldáliga é um dos porta-vozes da Teologia da Libertação e defende uma guinada social no Vaticano com a eleição do próximo pontífice.
Para o bispo, o Vaticano sob João Paulo II fechou-se demais para as questões internas da Igreja – apesar das investidas do papa na política como, por exemplo, na queda do comunismo na Polônia e em sua posição contra a guerra do Iraque. E num mundo marcado pelos desequilíbrios e diferenças sociais, a Igreja, na visão de Casaldáliga, deveria se voltar agora para os excluídos, a começar pelos da África, para os migrantes, para os soropositivos e para as mulheres marginalizadas.
Posturas como essas levaram Casaldáliga à Roma nos anos 80, quando a Teologia da Libertação vivia sua efervescência no Brasil e na América Latina. O bispo foi questionado sobre o caráter marxista da doutrina que defendia. E conta ter tido "uma espécie de discussão" com o cardeal Joseph Ratzinger, do departamento da Doutrina da Fé.
Casaldáliga não mudou suas convicções apesar das pressões de Roma. Se algumas dessas visões poderão ocupar a agenda do próximo papa – especialmente se este vier da América Latina ou da África – ainda é algo incerto.O bispo espera que ainda tenha tempo de vida para ver mudanças na Igreja da qual ora discordou e ora se entregou plenamente ao longo dos últimos 58 anos, desde que foi ordenado em Barcelona, sua cidade natal.
Em maio, dom Pedro deixa o posto de bispo do Araguaia, o qual ocupou durante 33 anos. O Vaticano anunciou a mudança no ano passado. A iniciativa causou polêmica porque o núncio apostólico, o representante de João Paulo II no Brasil, pediu, conforme relato de dom Pedro, que ele deixasse a cidade para não causar "constrangimento ao novo bispo". Padres, irmãos e leigos que formam a chamada assembléia pastoral da cidade emitiram então um manifesto exigindo que o bispo não fosse obrigado a se mudar.
As informações são da agência Reuters.
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